Paulo sempre
foi torcedor fanático do Nacional Futebol Clube e acompanhava o time para onde
quer que fosse. Dentro de casa então, não perdia um jogo. Brigava com a esposa,
faltava o trabalho, enfrentava qualquer sacrifício para ir ao estádio ver o
time do coração jogar. Cumpria essa rotina desde os tempos de moleque e até
hoje com 36 anos, casado, com dois filhos (os quais obrigou a seguir seu gosto
e sempre que podiam o acompanhavam) seguia fielmente essa rotina.
Desde
pequeno, Paulo gostava de ficar em um determinado cantinho dentro do estádio e
foi lá que conheceu o Alberto, torcedor tão fanático quanto ele e que sempre
estava no mesmo canto em todos os jogos. Depois de um determinado período os
dois se conheceram e criaram uma amizade que durava sempre que estavam no
campo.
Juntos
compartilharam alegrias indescritíveis como no título nacional da segunda
divisão do seu clube em 1991, choraram as mais profundas tristezas sentados em
um botequim sujo de cadeiras enferrujadas quando viram seu tão amado clube cair
para a terceira divisão em 1998. Com o passar do tempo foram ficando grandes
amigos, todos os problemas que porventura os cercassem se dispunham a conversar
e beber tentando achar a solução. Foi assim quando Paulo se divorciou ou quando
Alberto foi demitido do emprego. Foi assim também quando o primeiro filho do
Paulo nasceu e beberam ate o sol raiar para comemorar.
Só que
apesar dessa amizade tão forte eles nunca perguntaram o sobrenome um do outro,
nunca marcaram de sentar para almoçar e conhecer os filhos do amigo ou
conversaram fora dos arredores onde o estádio ficava. Nas raras vezes que se
encontraram por coincidência no meio da rua, apenas se cumprimentavam com um
discreto sorriso e nada mais. Por mais que não falassem, achavam que o dia em
que mudassem isso a amizade entre os dois acabaria.
Eis que um
dia em um jogo de vida ou morte onde o Nacional enfrentaria o todo poderoso São
João, ao chegar ao estádio e percorrer o caminho até o canto que costumava
ficar, Paulo percebeu que o Alberto não estava lá. Perguntou para os demais
amigos, o Aurélio, o Buarque e até mesmo o Baú não sabiam do paradeiro do
Alberto. Depois do jogo, com a vitória do Nacional por 2 a 1 com um gol impedido aos
49 do segundo tempo do centroavante Dente Podre, o barzinho “estava sem graça”
pensava Paulo, pois seu amigo não estava lá para comemorar junto com a turma.
No dia
seguinte, Paulo não conseguia encontrá-lo. Tentou em vão, pois não tinha seu
telefone, não sabia o nome completo, endereço e muito menos onde trabalhava.
Foi quando outro amigo chegou ao almoço e falou que tinha conversado com a
prima do cunhado do Alberto e ela tinha dito que o mesmo havia sofrido um
acidente no dia anterior ao jogo contra o São João, tinha passado pelo hospital,
mas infelizmente não aguentou.
Paulo ficou
completamente perturbado, se informou onde seria o enterro, combinou com alguns
outros amigos de campo e para lá se dirigiram. Lá chegando deram pêsames aos
poucos presentes que ali estavam - na maioria membros da família - enrolaram o
caixão com a bandeira do Nacional Futebol Clube e se despediram do amigo que
partia. Paulo ao contrário de todos ficou ainda um bom tempo perto do túmulo,
se despedindo, contando histórias da vida, pedindo conselhos e informando da
situação do time no campeonato depois da vitória.
Os membros
da família foram embora sem entender porque aquele desconhecido chorava tanto. Além
de nunca o terem visto, o Alberto sempre fora muito recluso, não era lá de ter
grandes amizades e saíram achando que na verdade era algum louco que estava por
ali.
Ate hoje,
passados alguns anos, Paulo continua indo ao estádio, ficando no mesmo cantinho
rotineiro e sempre no dia posterior ao jogo vai ao cemitério onde Alberto está
enterrado para lhe contar os resultados, como anda o time e também a vida. E
assim seguirá até o dia em que não conseguir mais caminhar.
P.S: Crônica inspirada pelos
amigos em dia de jogo no estádio da Curuzu.