
Nesse ponto é que se olha para trás, o que nunca é bom e nada acrescenta na verdade, mas mesmo assim olhamos. E o que ficou para trás? Ah...ficou tanta coisa. Ficaram sonhos de conquistar o mundo inteiro. Ficaram as maiores paixões, hoje com imagens nubladas que não consegue nem distinguir se realmente viveu aquilo. Ficaram amigos, família. Ficaram sentimentos caídos ao léu.
E quanto mais tempo passa, menos as lembranças fazem sentido. A maioria delas parece que simplesmente foram inventadas, pois o eu de agora, duvida do eu que poderia ter feito isso. Como ele existiu? Como pôde? E as pessoas que existiam com ele, não podem ser as mesmas de hoje em dia. Os discos ainda são os mesmos, os filmes sempre são revistos, só as roupas mudaram de tom.
E enquanto esse nada acontece, o telefone toca, urge, grita e vangloria mensagens para mais dias vazios. O trabalho foge do prazer e vira uma obrigação e os prazeres, estes coitados, sinceramente também já não fazem sentido. O mundo gira para todo lado, a conta fica no vermelho, mais um cabelo fica branco, outro esforço de alegria some sem dizer nada. Pouco alarde para quase nada.
É nessa toada que Rui levanta em mais uma quinta-feira às seis da manhã, para entrar devagarzinho na vida que antes pulava de cabeça sem medo algum. Ele sabe que isso é passageiro, que daqui a pouco as coisas entram no rumo de novo, porém a cada nova queda dessa um pedaço maior fica para trás e ele teme que daqui a pouco os pedaços restantes já não sejam suficientes para andar em paz.