
Os dias passavam e o garoto sempre observando, parando, olhando para ver se via alguma coisa, mas a linda jovem não saia de casa regularmente, somente às 17:00hs para regar as plantas do jardim, em um ritual sem lógica, que instigava Lucas mais e mais.
Já se passara mais de dois meses desde que a tal garota se mudara para a sua rua e nada de sair de casa. Comentava-se entre a sua turma que os pais dela, que também eram vistos raramente, eram muito severos e não permitiam a pobre menina de ter amigos. Contavam também que eles haviam se mudado para o bairro, porque onde moravam o pai dela havia surrado um garoto que tentara se aproximar, e isso folclore ou não, afastava cada vez mais todos de quaisquer contatos. Menos Lucas.
Lucas conseguira um trunfo. Descobrira o nome da menina, era Bianca, doce e suave assim. Havia descoberto através de um filho da empregada da casa de um tio-avô do seu pai e para ele isso já não importava, o que realmente valia era que a partir desse momento Lucas só pensava em Bianca, a imaginar sua voz, o seu jeito e a sonhar com ela a cada instante do seu dia.
Às vezes passava o dia sem comer escondido à frente da casa dela, na esperança de vê-la fora do seu habitual horário. Seus amigos achavam que ele estava louco, pois já não estudava, não jogava bola, não saia para azarar as meninas da vizinhança, passou até a faltar às reuniões de filme pornô, sendo que o aconselhavam sistematicamente a parar com isso, que o pai dela poderia pegá-lo e aplicar-lhe uma surra, mas nada disso tirava seu empenho. Aquele garoto de 12 anos conhecia pela primeira vez, o sentimento mais nobre que nutrimos, conhecia o amor.
E se passavam meses e meses e Lucas continuava lá abstêmio em frente à casa de Bianca, até que um dia ela não saiu para regar o jardim. Lucas espantou-se. Mais um dia e nada. Uma semana se passou e Lucas já começava a ter a tristeza como companheira. Até que o menino, já no auge dos seus 13 anos, resolveu ir à casa de sua amada, saber o que tinha acontecido, tendo como platéia todos os seus amigos, presenciando esse fato de rara coragem e vontade.
Quando bateu na porta, uma senhora doce, de rosto suave perguntou o que ele queria, Lucas gaguejando com o coração na mão em disparada, perguntou por Bianca, a mãe dela questionou se ele a conhecia e o mandou entrar. Eis que surge um homem alto, forte, barbudo vindo em sua direção. Era o pai dela. Lucas tremia, suava feito um louco no deserto, mas conseguiu agüentar tudo e contar a sua história.
Foi então que ficou sabendo que Bianca estava muito doente e por isso já não regava as plantas do seu jardim, que o seu pai realmente tinha surrado alguém, mas não era um garoto e sim um rapaz com 20 e poucos anos que tentava se aproveitar de sua filha e que ela desde esse acontecimento perdeu a alegria, ficou calada, fechada para o mundo, por mais que seus pais, que eram ótimas pessoas a incentivassem a ter amigos, ela nada queria.
Depois disso tudo, Lucas conheceu Bianca e os dois tornaram-se grandes amigos, mas ela piorava a cada dia e ele passou a levar uma rosa para o seu quarto, ficando a conversar por horas e horas durante mais uns dois anos. Até que um dia, Bianca não agüentou mais e faleceu. Seus pais acharam no seu quarto um bilhete escrito pouco antes de sua morte, em que ela falava que sua vida tinha valido, pois conhecera Lucas e terminava dizendo que o amava, pensava que ele lhe visitava por pena ou caridade, uma vez que ele nunca lhe contara nada.
Lucas sofreu, chorou, com a perda de seu primeiro amor e até hoje reza para Bianca todos os dias, mesmo com seus 40 e poucos anos, casado e com filhos, guarda sua lembrança dentro de seu coração, uma lembrança boa daquele amor de menina que conhecera na juventude. Não esquece-se um grande amor, quando verdadeiro.E é assim que a vida se demonstra no caminho de vez em quando, feia ou bonita, está ai para ser vivida e amada.
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