terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Nada Poderia Mudar

“Eu não em importo” disse batendo a porta do carro e entrando na sua casa sem olhar para trás, enquanto caminhava a passos largos para seu recanto habitual. “Se importar” sempre foi muito fundamental na sua vida, era algo que fazia com maestria, mas já há muito tempo não se importava mais, só queria viver sua já tão combalida vida.
Sentado no seu quarto em meio a fotos num mural que lembrava tempos muito melhores, tempos bem mais honestos, ele quase se pegava chorando. “Pura besteira”, pensou enquanto colocava um velho disco do Morrisey dentro do computador e abria uns arquivos esperando continuar seu trabalho que se atrasara tanto nos últimos meses.
Nunca fora lá muito esperto na frente dos amigos, sua função sempre foi a do sonhador, a do bom rapaz, uma farsa que sustentou até quando pode, pois lhe convinha muito bem, pois não precisava se envolver em toda a porcaria que a sociedade ao seu lado produzia. Sempre precisava acreditar e assim seguia em frente, mas há tempos isso não acontecia mais. Tinha estancado como um burro e não havia mais ninguém para lhe dar umas chicotadas para que voltasse a andar.
Enquanto os versos “...the more you ignore me, the closer i get...” ecoavam junto ao riff de guitarra no seu som, pensava em como tudo mudara, aliás, pensara em como deixara tudo mudar. Na verdade grande parte da culpa era sua, por ter deixado de se importar, por ter deixado que quem gostava fosse saindo de sua vida, que deixasse sua vida passar sem fazer os alardes de outrora.
Desligou o computador, ajeitou sua cama, preparando-se para mais uma noite de insônia que viria pela frente, sabendo que pensaria em mil formas de viver durante a noite, mas que quando acordasse seguiria os mesmos últimos passos da sua vidinha banal. E nada poderia mudar. Nem os dias, nem seu lar.