quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Como o Vento

Vento ao longe, nada por nada
Parceiro de vida, livre ao mar
Vento que sopra, apaga a pegada
Passado assim, não quer estar
Vento desperta, joga bem longe
Saudade que insiste, além horizonte
Vento que muda, brinca contigo
Presente que assusta, teu novo abrigo
Vento que inunda, cala o deserto
Palavras que fluem, desejo incerto
Vento que sopra, assim sem porque
Coração que chora, sem mais querer

Vento que é vento, sempre original
Espelhos que falam, não foi por mal
Vento que voa, sempre com paixão
Tristeza que ecoa, assim sem razão

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Marcas Nada Especiais

"Estou velho", pensou ao acordar e se olhar para o espelho na frente da sua cama. Se levantou, sentou na cadeira costumeira, parceira e confidente dos últimos anos e começou a acariciar seu rosto e as marcas do passado nele contidas. Pensava que quando chegasse nessa idade cada ruga lhe contaria uma estória diferente, uma aventura sem precedentes, mas não era assim. Seu rosto franzido nada lhe dizia, a não ser palavras modestas e sem graça alguma.
Foi uma pessoa padrão na sua vida, honesto, trabalhador, contribuiu para a sociedade, se casou, teve filhos, fez tudo que devia fazer de acordo com seus pais, mas não fez nada que suspeitava que fosse capaz. Não mudara o mundo, se adequara a ele. Grandes aventuras não teve, só as da video locadora ao lado na tela da sua tv. Grandes amores, só suposições de grandes paixões. E hoje sentado em sua cadeira habitual, não tem nada pra lembrar, nada pra viver, está somente a espera de deixar esse lugar e ir para outro com suas marcas nada especias, a ouvir Sinatra cantar.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Como uma vida qualquer

Meu nome é Marcos Almeida, não, não tenho nenhuma virtude em especial, sou apenas um cara normal cansado de correr na direção contrária sem pódio de chegada, ou beijo de namorada. Tenho uma vida como a de qualquer outro, sou cidadão respeitável, cristão convicto, burguês padrão, consegui passar no vestibular pela primeira vez aos 16 anos. Hoje tenho 28.
Nessa vida que passa já fiz de tudo, já passei por poucas e boas, já fui punk, new wave, comunista, grunge e o que mais pude ser, hoje sou apenas o Marcos Almeida, nada demais. Nesses anos consegui um bom trabalho, uma boa casa, vivo muito bem para um solteiro na minha idade, tenho meus luxos e minhas idiossincrasias como qualquer outro mortal, tenho até sonhos de vez em quando, imagine você.
Aliás, você deve estar se perguntando porque estou te contando tudo isso, afinal de contas o que você tem a ver com a minha vida? Já tem tantos problemas e ainda tem que escutar minhas besteiras. Na verdade, nem eu sei ao certo porque estou lhe contando isso, acho que no fundo percebo que tenha alguma importância, seja lá qual ela for. Acontece que apesar de toda essa vida boa que Deus me ajudou a construir, nunca me senti completo, feliz de verdade. Me vestia em diversas caricaturas e ia embora, seguia a vida. É claro que vivi muito, muito mesmo, afinal de contas se chorei ou se sofri o importante é que emoções eu vivi, já dizia o Robertão, só que minha vida ainda parecia vazia, sei lá faltava um sentido.
Foi quando na empresa inventaram um "diabo de projeto de responsabilidade social", pensara eu, "tantos projetos a serem terminados, tantos clientes a serem conquistados e querem que a gente perca tempo com isso, não tem condições". Mas, como era obrigado participar devido aquelas baboseiras que de vez em quando passam pela cabeça do setor de RH (Sinceramente, você já viu algum setor que muda de idéia com mais freqüência que o RH ? ), eu fui.
Fomos a um desses subúrbios, visitar uma creche que a empresa prestava auxilio financeiro, não por mera bondade é claro, e sim devido aos descontos que poderia obter no Imposto de Renda e ainda passar uma boa imagem aos seus clientes, mero marketing. Lá chegando, participamos de algumas brincadeiras idiotas com as crianças, imagine só; senhores no alto dos seus 50 anos, brincando de dança da cadeira com crianças de 5, sinceramente não dá. Depois de um tempo, já cansado, sentei em um banco pra respirar e reclamar da minha vida comigo mesmo, (coisa que faço com inegável maestria), quando chegou um menino de no máximo 8 anos , que vendo meu cansaço, perguntou se queria água, respondi que sim e ele prontamente se dispôs a ir buscar, trouxe, se sentou e começou a conversar comigo.
De súbito, empolgado pelo sorriso daquela criança que me contava como era sua casa, sua escola , sua vida, me dizendo o quanto queria ter aquele brinquedo que via na TV chamado vídeo - game, só que infelizmente sua mãe não podia comprar, que às vezes só comia uma vez por dia, lá na própria creche, pois quando chegava em casa não tinha comida para ele e seus cinco irmãozinhos, e que apesar de todas essas coisas ainda vivia sorrindo, sonhando em ser bombeiro quando crescesse. Para minha surpresa, perdi a noção do tempo e do espaço ao me ver conversando sobre as maiores questões do universo infantil, como se um dia o pessoal da caverna do dragão ia conseguir voltar pra casa, se o Smurf apaixonado ia conseguir namorar com a Smurfete, se o Tom nunca conseguiria pegar o jerry, se o Coiote pegaria o Papa Légua e coisas do tipo.
Me despedi do menino cujo nome era João, e fui pra casa. No conforto do meu sofá assistindo um seriado americano igual a todos os outros seriados americanos que passam na TV a cabo, percebi que era isso que faltava pra mim, faltava ajudar alguém, fazer algo de bom, que saísse das minhas questões de trabalho, do meu dia a dia, ajudar a conquistar algo mais que somente aquilo que eu queria.
Me juntei com mais quatro amigos e hoje damos uma pequena ajuda financeira a creche, besteira pra gente, coisa que gastaríamos em um final de semana qualquer, mas uma imensidão para aquelas crianças. Conseguimos também, que nossas empresas doassem alguns computadores velhos que não usavam mais e todo sábado de manhã ensinamos essas crianças a utilizar o computador, depois ainda jogamos bola com eles de vez em quando, e sempre saio de lá revigorado, vendo o sorriso do menino João, que me dá novas forças pra continuar a minha vida como ela sempre foi, só que agora com um pouco mais de sentido.
Por que lhe contei isso ? Não sei , quem sabe você saiba.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

As Três Estrelas

Pedro desde pequeno sempre fora muito medroso, muito preocupado com a vida. Quando pequeno tinha medo de jogar futebol e se sujar, pois talvez o sujo não fosse sair mais, tinha medo de ver um filme de terror, pois achava que não iria conseguir dormir e outras coisas mais.
E assim ia vivendo repleto de receios e temores, desconfiado pelos quatro cantos, sem nunca se entregar de verdade a alguma brincadeira, sem nunca se divertir de verdade como as outras crianças do bairro. O tempo ia passando e Pedro ia crescendo, entrando na adolescência, começando a sentir os primeiros sintomas de tal época, passou a olhar as meninas com outros olhos e eis que um belo dia, se apaixonou por Maria Luiza, uma colega de classe e uma das meninas mais bonitas do colégio.
Pedro ficava retraído quando a via, ficava sem saber o que fazer, o que falar, como agir. Levou dentro de si esse sentimento durante o ano todo, sem dizer nada a ninguém. Ao chegar o final do ano, Mauro seu melhor amigo desde os tempos de jardim, descobriu suas intenções para com Maria Luiza e passou a incentivá-lo a ir atrás, a falar tudo que queria.
Na tradicional festa de fim de ano, impulsionado pelos amigos mais velhos, Pedro no auge dos seus 14 anos, tomou o primeiro porre de sua vida para criar coragem e resolver ir falar com sua quimera. Lá chegando com um bafo horrível e trocando palavras a cada minuto, foi tratado de maneira grosseira pelo seu primeiro amor e decidiu naquele próprio instante que nunca mais ia tomar atitude alguma na vida, que ia se esconder com medo e não queira mais saber de nada, principalmente de paixões.
Depois de um determinado tempo, Pedro estava sentado na varanda de sua casa, quando o seu avô que por lá estava passando uns dias, lhe viu tristonho e o chamou para conversar. O menino contou o que houvera acontecido, que era melhor ele não ter feito nada e continuar calado, que tinha se arrependido de ter exposto seus sentimentos. Foi quando seu avô, pegou sua mão e disse:
- Meu neto, se você não tivesse feito nada, passaria a vida pensando em como teria sido e lamentaria a cada dia. Nessa vida que passa, temos que arriscar, pois ela detesta quem tem medo, quem não consegue vivê-la. Agora olhe para o céu veja aquelas três estrelas lá em cima, estás vendo? Essas estrelas são conhecidas como a “Luz da Felicidade” e toda vez que você se sentir triste, magoado, com medo do que poderá vir, olhe para cima e se elas estiverem brilhando para você, tudo dará certo.
Pedro olhou para o alto e ficou a pensar por horas a fio.
Desde esse dia, quando algo de ruim acontecia, ele olhava para cima e buscava as três estrelas que brilhavam e faziam seguir em frente, se levantar, a ter coragem de tentar as coisas que podiam dar certo na sua vida.Mesmo hoje com 48 anos, empresário bem sucedido, casado com Estela, a mulher de sua vida, com a qual tem quatro filhos adoráveis, Pedro ainda olha para o céu quando algo acontece de ruim e delas extrai força para continuar.
Na verdade, essas três estrelas nunca existiram, nunca houve “Luz da Felicidade” alguma, era tudo invenção do seu avô para levantar sua moral. Por mais que ele não tenha percebido até hoje, o que o impulsiona na vida são as palavras que escutou em sua infância, essas palavras são suas verdadeira estrelas.
E é assim com todos nós, todos temos algo que nos leva para frente, que nos faz seguir apesar de todos os obstáculos dessa vida, que nos faz buscar intensamente essa palavra chamada felicidade, que nos faz cometermos os mesmos erros, que não nos faz desistir, nunca deixar de tentar, pois a vida tende a ser maravilhosa se não tivermos medo dela.
E se a vivermos de verdade.