sábado, 27 de agosto de 2005

Um Coração, Um Lar

Que a vida te preserve
Descuidada e ingênua
Sem preocupações
Com um sorriso a iluminar
Que assim se carregue
Tudo que se possa sonhar
Na cabeça, uma idéia
No coração, um lar
Que Deus te mantenha
Alegre e sincera
Inspirando-me
Ajudando-me a caminhar
E principalmente que eu te mereça
Cada dia mais e mais
Faça da tua vida um musical
Que possamos pela vida encenar

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

O Tempo Não Passa

Quem vem de familia catolica com certeza deve se lembrar daquele calendario anual que vinha com uma imagem santa e várias folhinhas, uma para cada dia contendo atrás informações diversas. Pode ate soar que isso foi há muito tempo, mas lá em casa continua do mesmo jeito até os nossos dias de hoje.
Como passo a semana quase toda fora de casa (ainda chamo assim, apesar de passar pouco tempo por lá), as folhinhas dos dias só são retiradas aos fins de semana quando retorno e me lembro, sendo que um dia desses do nada parei para pensar que ao contrário do que muitos dizem, o tempo (este quase ser humano) não passa. Pelo menos lá em casa.
De súbito comecei a imaginar como a vida pode ser tão normal, tão tranqüila, seguindo seu rumo devagar, sossegada, sem pressa de acontecer. Meu pai de um lado na sua rotina entre alguns sonos diários, pequenas birras com minha mãe, jogos de futebol, reclamações sobre seus times e rememorando o passado. Minha mãe entre seus afazeres domésticos, suas rezas, missas, e claro agüentando as birras de meu velho, entre uma novela e uma conversa.
Das preocupações que lhe restaram, ficam a saúde dos filhos, o crescimento do netinho adorado, a eterna preocupação em nos ver bem alimentados (como se ainda tivéssemos oito anos) e a sua própria saúde, nada além disso, consumindo a passos lentos os segundos e minutos do dia. Nada parecido com a vida que levamos, nós, pessoas antenadas e pós modernas do século XXI.
É certo que os tempos são outros e com certeza não nos acostumamos em nossa maioria a ser assim. Estamos ocupados demais com a informação, com o nosso trabalho, nossas contas, nossos amores e desamores, além de tudo mais que acharmos necessário. Agendamos tudo. Do trabalho a diversão. Da reunião de resultados ao filme novo do Tarantino. Da ida ao banco até o encontro do fim do dia. Da leitura matinal do jornal ao chopp do fim de tarde. O tempo é o nosso eterno vilão, são tantas coisas para fazer e viver em tão poucas e disputadas horas. Ao contrário lá de casa, lá o tempo é apenas um companheiro.
Da minha vida nômade, pulando de galho em galho, de cidade em cidade, de rua em rua, de bar em bar, curtindo mil músicas ao mesmo tempo, vivendo com arremedos de paixões pelos cantos, não consigo me imaginar com essa conivência com o tempo. Para mim o tempo sempre foi algo a ser superado, algo a ser consumido, comprei até um relógio para me controlar melhor, imaginem!! apesar de ser relaxado do jeito que sou, o tempo sempre preocupa.
E ainda envolto aos meus parcos e inertes pensamentos, retirando mais alguns dias da folhinha, olho pro lado e tento perceber se nada mudou nesses dias, se algo está diferente, quando escuto uma voz suave, terna, vindo lá da cozinha dizendo: “-Drico, queres que eu esquente tua janta?”, respondo que sim a minha mãe e finalizo minhas idéias sabendo que lá em casa realmente o tempo não passa, continua no seu mais puro e belo andamento, sem pressa, na paz. Ainda bem.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Nada Especial

E lá se via ele parado novamente a olhar para o horizonte com a nevoa cobrindo suas percepções, suas ideias, deixando transparecer cada vez mais sua inabilidade para tratar das coisas da vida. Não era a primeira vez nos últimos dias que saia andando a esmo antes de ir trabalhar, precisava reorganizar as ideias, o mundo lhe parecia cada vez mais sujo e vulgar e isso lhe causava um tremendo mal estar.
Havia jogado fora tudo que lembrara seu passado, não queria mais revigorar nada que lhe deixasse mal, queria partir para coisas novas, outras pessoas, estava completamente exausto do mais do mesmo que havia se tornado sua vida. Sempre acreditou que era só esperar, que o tempo, o destino certamente seriam bondosos, mas pura decepção, cada novo dia que passava só agregava mais inutilidades no meio do seu caminho.
Caminho esse que por mais que quisesse não conseguia largar, seu amor ainda era incondicional e nada que fizesse poderia mudar isso. Chegou ao trabalho, deu bom dia a todos, organizou sua agenda, passou pelo orkut e se debruçou novamente sobre seus projetos que não lhe traziam alegria nenhuma ao som de Damien Rice tocando em seu fone. Os pensamentos iam e viam, enquanto ele percebia que não era nada especial, apenas mais um cara normal, sem sorte e assim como em “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez, fadado a solidão.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Dezembro

Cada semana que passa, relembro
Cada dia me maltrata, te espero
Cada ano você passa, dezembro
Cada hora me desgraça, sincero
Cada carro que atravessa, te vejo
Cada rua que ando, desencanto
Cada pessoa que falo, desejo
Cada som que ouço, teu canto
Cada cama que deito, esqueço
Cada palavra que escrevo, vazia
Cada carta que leio, desprezo
Cada foto que vejo, nostalgia
Cada perfume que passo, esperança
Cada porta que fecho, rancor
Cada sonho que tenho, criança
Cada coisa que sinto, amor

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Balas de Festim

Aqui abro este diário de cartas marcadas
Este diário submerso a minhas decepções
Escrevo neste meus pensamentos tolos
Debruço as palavras sem ordem no papel
Abro este como fiz com minha infame vida
Com suas risadas ocas, seus sorrisos amarelos
E transformo toda inércia em inutilidade
E disparo contro o mundo minhas balas de festim
Aqui abro este diário opaco e sem graça
Que nem a mim pode realmente interessar
Despejo minhas dúvidas, meus eternos medos
Todas as noites frias em que não consegui dormir
Como folhas soltas feito dias levemente vagos
Como pedaços de um quebra cabeça sem fim
Faço deste meu humilhante e derradeiro testemuho
E o jogo fora, abrindo outro como quem começa uma nova vida

domingo, 7 de agosto de 2005

Deixo Estar

Por mais um dia quase consegui te falar
E por esse quase me dispus a pensar
Por mais uma vez vou tentar te ligar
Dizer algumas besteiras, outras coisas banais
Por mais uma hora vou te esperar passar
E vou me esconder, mais uma fuga vulgar
Por mais um mês falarei que vou mudar
Direi que não ligo, que já não sinto mais
Mas quando te ver na rua, em algum lugar
Não vai ter nenhum jeito, tudo vai voltar
E vou reviver cada momento, nova euforia
Ficarei no quase, a beira da alegria
E por mais um tempo vou conseguir te levar
Não me importo com o que pensam, deixo estar
Por mais uma música deixarei de lembrar
E assim vou seguindo, seguindo devagar

Obs: Achei esse texto um dia desses no meio de uns papeis guardados com a data de 19/09/2000, retrato fiel de outras epocas, outros tempos, uma realidade que não existe mais, que optei por colocar aqui para exorcizar as lembranças ruins, me resguardando somente as boas coisas...

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Solidão Doce Amiga


Solidão esconde tudo, prende a alma
Devora o mundo, o submundo
Solidão palavra triste, vive calada
Sofrendo junto, em seu conjunto
E por ser só, vive a andar
Esperando milagres, invocando imagens
E por ser vazia, vive a chorar
Visitando o passado, o futuro tão sonhado
Solidão grande amiga, sempre ao lado
Ajuda a chorar, partilha o sofrer
Solidão fiel confidente, escuta tudo
Aprende a amar, a acreditar
E por ser nostálgica, nunca sorri
Aceita seu destino, o seu caminho
E por ser minha, vive no coração
Pescando ilusões, escondendo tumores

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Como Os Demais

Eu preciso de doses homeopáticas de amor
De um lexotan que acalme meus ideais
Que me faça crer, que me permita crescer
Eu preciso de uma propaganda na Globo
De um espaço qualquer no sofá da Hebe
Que me faça parecer importante, soar relevante
Eu preciso de um bom chá de ervas mortas
De um quarto para mostrar minhas caras
Que me dê o verdadeiro instante, não obstante
Eu preciso de uma canção ruim no rádio
De um trio de dançarinas a me acompanhar
Que me ensine a aparecer, a dizer o que fazer
Assim como os demais que nada dizem
Que nunca pensam, que nunca gritam
E que insistem em ser apenas como os demais.