quarta-feira, 3 de junho de 2009

Olhos

“Ah....são os olhos...” Sem dúvida, não hesito em nenhum momento em dizer que são os olhos. Eles são os responsáveis por deixar minha alma desnuda e discernir entre o mero belo e o belo que dura. São eles que me surpreendem a cada momento, por mais que ame bundas e tudo mais, mas são os olhos que mexem de verdade; é neles que consigo tentar acreditar no que pode acontecer, ao que me vou me submeter.
Foi assim com Maura. Na verdade e falando bem sério nunca pensei em me apaixonar por alguém de nome Maura, um nome tão sério, tão distante de mim. Quando pensava em alguém quando era jovem, logo me via na cabeça nomes descolados, mas nada como Maura. E então o que acontece? Um belo dia desço a Conselheiro Furtado para para ver um livro, quando uma moça não tão bela, não tão feia, me faz a ridícula pergunta; “Que horas são”?”.
“Horas, que horas?” E não parei de olhá-la; olhos fortes, castanhos, pesados, que pareciam carregar toda a responsabilidade do mundo em suas costas, quando ela me disse depois de três segundos ou quatro minutos: “Aconteceu alguma coisa?” E eu no meu absurdo inconsciente nerd, respondi besteiras gaguejando entre comparações com Nico e Marisa Monte, quando me dei conta de um sorriso esplendoroso do outro lado. “Ah, são os olhos...mas depois um sorriso...”
E como tudo que acontece uma vez na vida, a fábula passava na frente, o conto de fadas que você nunca acreditou que existia lhe rouba a própria existência. As dívidas, problemas, a crise do time no campeonato, o disco ruim da sua banda, a promoção que nunca vem, parecem que não existem mais, o mundo mudou e você acabou de inventar uma nova realidade, que passa, começa e continua através do puro soluçar de dois olhos em um dia comum.
Penso até com uma certa loucura da minha hoje parca mente, que triste são aqueles que se contentam com as bundas, peitos e reboladas. Eles não sabem ao certo como sua alegria é fugaz, efêmera. Não sabem que com o tempo, essas bundas e peitos caem e o rebolado passa a ser sem graça, mas os olhos, ah...os olhos, esses são eternos. E enquanto estou aqui com lágrimas escorrendo, procuro dentro desse caixão sem graça os olhos da minha Maura e não consigo mais enxergar seu brilho, e percebo que minha alma se foi no exato momento que eles não abrirão mais.