quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"Orkut é o C......"

“De tempos em tempos acontecem milagres sem que a gente peça ou perceba. Esteja pronto para recebê-los”. Assim definia a sorte na manhã de segunda no orkut. “Tá foda né? Até a porra dos sites agora tão querendo dar uma de mãe Dinah”, foi o que pensou Arnaldo assim que ligou o computador com uma ressaca daquelas por causa de uma cerveja a mais na domingueira. “Eu ainda paro de beber, ô se paro”, prometeu sem muito vigor.
Antes de realmente começar a trabalhar, Arnaldo sempre visitava alguns sites de noticias, esportes e outros como myspace e orkut. Trabalhava em casa o que já facilitava bem sua vida nesse sentido. Na segunda que como bom devoto do Garfield odiava com todas as forças, as coisas geralmente eram um pouquinho pior. E o orkut também não ajudava muito nesse dia. Além da mensagem ridícula de auto ajuda, ainda tinha uma mensagem embaixo com “Maria adicionou uma nova foto para o álbum Diversão”.
Ele já tinha cogitado algumas vezes detonar a ex-namorada das suas casas virtuais, mas sempre rejeitava para que ela não pensasse que ele era um mal educado. Afinal terminaram “na boa”, pessoas adultas que sabem muito bem o querem. Na verdade, o que ele queria era não perder o contato e saber com quem ela andava pelo menos. É foda. “Mas, agora que se passaram seis meses, daqui a pouco me recupero”, pensava Arnaldo enquanto tomava o primeiro dos 5 Red Bull que seriam consumidos no dia.
Não tinha jeito. É claro que ele ia lá bisbilhotar o álbum com as fotos novas. Três fotos. Nas três, várias pessoas em algum bar da moda na noite de Belém. Nos comentários várias pessoas que ele nunca tinha visto, com recados como “Adoooorooooo!”. “Caceta! Onde diabos a Maria foi arrumar amigos que falam ou escrevem “Adoooorooooo!”. Não acredito nisso!”. Ao invadir os amigos dos comentários, mais sustos ainda. Comunidades como “Babados de Belém” e “Eu aaaamooo meus amigos!” dominavam.
“Ótima segunda-feira!” resmungou enquanto começava a abrir os arquivos do trabalho meio sem vontade. O dia correu mais ou menos em ordem. Algumas merdas para serem resolvidas. Um som mais alegre no player. Almoço de leve. Mais Red Bull. Alguns amigos sem ter o que fazer puxando papo sem o mínimo conteúdo no msn (“Será que as pessoas não sabem o que quer dizer o status ausente ou ocupado?, Arnaldo sempre reclamava”). Tudo normal. Quando por volta as 18:00hs chega uma mensagem no msn: “Preciso falar contigo. Me liga por favor. Preciso mesmo"
Era a Maria. Nesse momento as esperanças sempre voltam e acredita-se em tudo. “O orkut tava certo, milagres acontecem mesmo, por mais que a gente peça muito. Será que eu estou pronto?”, pensou. Deixou passar umas duas horas para não dar bandeira, pegou o telefone, foi para um lugar tranqüilo e discou o número que sabia de cor, recor e salteado:
- Alô.
- Alô.
- Maria?
- Ela.
- É Arnaldo, você queria falar comigo? Desculpa é que estava com uns amigos e só deu para ligar agora.
- Oi Arnaldo. Quanto tempo né? Eu queria falar contigo mesmo, mas não sei por onde começar.
- Ah, diga lá, o que seria?
- Não sei. Bom, mas vou dizer apesar de não saber o que tu vais pensar.
- Diga.
- Bom, ontem a noite eu estava na balada com uns amigos e a banda tocou “A Long December” do Counting Crows que a gente sempre escutava. Aí foi inevitável lembrar de você. E hoje eu pensei, pensei, pensei e resolvi ir atrás de ti para falar uma coisa.
- Pode falar. Desembucha menina.
- Tú poderias me devolver o cd que ficou contigo e tem essa música?
“Orkut é o caralho!”, pensava Arnaldo enquanto deletava seu contato na rede e procurava o disco do Counting Crows para deixar na portaria. “Orkut é o caralho!”, esbravejou até dormir.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Segundas Chances

A noite já caia há algumas horas, na verdade a madrugada já se aproximava e viam-se cada vez menos pessoas andando pela rua. O movimento rareava a partir do avançado da hora, pensei calmamente. Mas nem sempre foi assim, lembro de dias que ficarão para sempre guardados na memória em que bons amigos (nessa época, ainda eram bons) saiam pela cidade de cinema em cinema, de bar em bar, de praça em praça. Hoje o medo já não permite tal ousadia.
Peguei o ônibus depois de estar no ponto há quase uma hora. Nos últimos dias tinha uma súbita sensação de descontentamento tomando meu corpo, tudo parecia como um filme sem graça que pegamos em um canal de tv aberta zapeando sem sono pela madrugada. Com o celular devidamente escondido, liguei o mp3 player já que a viagem seria longa. A primeira música que tocou foi “Ain't No Cure For Love” do Leonard Cohen. Destino? Acho que não. Mas esse cara sabe das coisas.
Enquanto o ônibus entrava entre ruas mal iluminadas e passava por casais se agarrando na frente do cemitério e pequenas novas sensações da noite, com carros e seus sons ligados em alto volume tocando alguma canção sem muita qualidade, minha cabeça voava pelos acontecimentos dos últimos meses, de como minha inesgotável capacidade de ser covarde tinha acabado com uma das poucas coisas que ainda me fazia bem na vida. Susana desapareça fazia meses e meu orgulho impedia de procurá-la.
Na verdade, acho que foi isso que acabei me tornando no decorrer da minha caminhada: um medroso profissional. Tá certo que alguns medos eu entendia como normais, até porque a cidade nunca esteve tão perigosa e os últimos três ou quatro assaltos, com um inclusive me abrindo uma enorme ferida na cabeça, não favorecia muito o cenário de otimismo. No entanto, outros medos foi a vida que proporcionou e eu sempre louco por desculpas que me justificasse, as agarrei como pude.
Enquanto Leonard Cohen seguia cantando no mp3 player e a cidade mostrava suas ruas que abarcavam sentimentos dispares como satisfação e melancolia, alegria e tristeza, o celular pula as canções e acusa a mensagem que leio em seguida: “Estou ouvindo o disco do Wilco que você gosta e lembrei de ti. Me liga. Já faz muito tempo. Bjos. Susana”. A surpresa se transformou em desconfiança. Seria uma segunda chance? Foi quando “Hey, That's No Way To Say Goodbye” invadiu os fones e decidi responder a mensagem, enquanto pensava que esse Cohen sabe mesmo das coisas.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Olhos

“Ah....são os olhos...” Sem dúvida, não hesito em nenhum momento em dizer que são os olhos. Eles são os responsáveis por deixar minha alma desnuda e discernir entre o mero belo e o belo que dura. São eles que me surpreendem a cada momento, por mais que ame bundas e tudo mais, mas são os olhos que mexem de verdade; é neles que consigo tentar acreditar no que pode acontecer, ao que me vou me submeter.
Foi assim com Maura. Na verdade e falando bem sério nunca pensei em me apaixonar por alguém de nome Maura, um nome tão sério, tão distante de mim. Quando pensava em alguém quando era jovem, logo me via na cabeça nomes descolados, mas nada como Maura. E então o que acontece? Um belo dia desço a Conselheiro Furtado para para ver um livro, quando uma moça não tão bela, não tão feia, me faz a ridícula pergunta; “Que horas são”?”.
“Horas, que horas?” E não parei de olhá-la; olhos fortes, castanhos, pesados, que pareciam carregar toda a responsabilidade do mundo em suas costas, quando ela me disse depois de três segundos ou quatro minutos: “Aconteceu alguma coisa?” E eu no meu absurdo inconsciente nerd, respondi besteiras gaguejando entre comparações com Nico e Marisa Monte, quando me dei conta de um sorriso esplendoroso do outro lado. “Ah, são os olhos...mas depois um sorriso...”
E como tudo que acontece uma vez na vida, a fábula passava na frente, o conto de fadas que você nunca acreditou que existia lhe rouba a própria existência. As dívidas, problemas, a crise do time no campeonato, o disco ruim da sua banda, a promoção que nunca vem, parecem que não existem mais, o mundo mudou e você acabou de inventar uma nova realidade, que passa, começa e continua através do puro soluçar de dois olhos em um dia comum.
Penso até com uma certa loucura da minha hoje parca mente, que triste são aqueles que se contentam com as bundas, peitos e reboladas. Eles não sabem ao certo como sua alegria é fugaz, efêmera. Não sabem que com o tempo, essas bundas e peitos caem e o rebolado passa a ser sem graça, mas os olhos, ah...os olhos, esses são eternos. E enquanto estou aqui com lágrimas escorrendo, procuro dentro desse caixão sem graça os olhos da minha Maura e não consigo mais enxergar seu brilho, e percebo que minha alma se foi no exato momento que eles não abrirão mais.

sábado, 18 de abril de 2009

Jogos Sem Vencedor

E tudo poderia ser tão mais fácil
Se os jogos, os ódios, o ópio fossem cancelados
Sem as mil facetas, e algumas agradaveis surpresas

Tudo poderia realmente acontecer
Fantasmas do passado jogados ao lado
Crença em um futuro que não sabemos ao certo

E por tudo seria bom novamente passar
Os momentos em que os dias teriam luz
As vezes que pequenas coisas salvariam a vida

Mas, para você infelizmente não pode ser assim
Tudo se resume a um eterna partida sem vencedor
E assim o futuro passa a estar cada vez mais distante


Triste assim.