quarta-feira, 1 de julho de 2009

Segundas Chances

A noite já caia há algumas horas, na verdade a madrugada já se aproximava e viam-se cada vez menos pessoas andando pela rua. O movimento rareava a partir do avançado da hora, pensei calmamente. Mas nem sempre foi assim, lembro de dias que ficarão para sempre guardados na memória em que bons amigos (nessa época, ainda eram bons) saiam pela cidade de cinema em cinema, de bar em bar, de praça em praça. Hoje o medo já não permite tal ousadia.
Peguei o ônibus depois de estar no ponto há quase uma hora. Nos últimos dias tinha uma súbita sensação de descontentamento tomando meu corpo, tudo parecia como um filme sem graça que pegamos em um canal de tv aberta zapeando sem sono pela madrugada. Com o celular devidamente escondido, liguei o mp3 player já que a viagem seria longa. A primeira música que tocou foi “Ain't No Cure For Love” do Leonard Cohen. Destino? Acho que não. Mas esse cara sabe das coisas.
Enquanto o ônibus entrava entre ruas mal iluminadas e passava por casais se agarrando na frente do cemitério e pequenas novas sensações da noite, com carros e seus sons ligados em alto volume tocando alguma canção sem muita qualidade, minha cabeça voava pelos acontecimentos dos últimos meses, de como minha inesgotável capacidade de ser covarde tinha acabado com uma das poucas coisas que ainda me fazia bem na vida. Susana desapareça fazia meses e meu orgulho impedia de procurá-la.
Na verdade, acho que foi isso que acabei me tornando no decorrer da minha caminhada: um medroso profissional. Tá certo que alguns medos eu entendia como normais, até porque a cidade nunca esteve tão perigosa e os últimos três ou quatro assaltos, com um inclusive me abrindo uma enorme ferida na cabeça, não favorecia muito o cenário de otimismo. No entanto, outros medos foi a vida que proporcionou e eu sempre louco por desculpas que me justificasse, as agarrei como pude.
Enquanto Leonard Cohen seguia cantando no mp3 player e a cidade mostrava suas ruas que abarcavam sentimentos dispares como satisfação e melancolia, alegria e tristeza, o celular pula as canções e acusa a mensagem que leio em seguida: “Estou ouvindo o disco do Wilco que você gosta e lembrei de ti. Me liga. Já faz muito tempo. Bjos. Susana”. A surpresa se transformou em desconfiança. Seria uma segunda chance? Foi quando “Hey, That's No Way To Say Goodbye” invadiu os fones e decidi responder a mensagem, enquanto pensava que esse Cohen sabe mesmo das coisas.

Nenhum comentário: