sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Definições

Muitas pessoas precisam de definições, precisam ser rotuladas, pois não conseguem seguir adiante sem ter pregado no seu corpo em letras garrafais e brilhantes, todas as suas virtudes e os seus pequenos, quase inexistentes defeitos. Quando não se liga para isso, eis que a tarefa recai para aqueles que devido a sua pequena visualização de vida, precisam enxergar aos outros como seres inseridos dentro de alguma lógica de comportamento.
No mundo de hoje todo mundo te pergunta como és, do que gostas, por onde andas. Seja as campanhas de telemarketing, forçando uma intimidade impossível de acontecer, seja os cadastros na internet, onde já chegaram a me perguntar certa vez “Qual a minha marca preferida de cuecas?”, os sites de relacionamentos como o orkut, e acima de tudo as próprias pessoas. Definir os outros parece uma realidade, enquanto na verdade não teria que acontecer.
Uma das maiores características do ser humano é sua inconstância. Porque não posso conviver dentro do meu Mp3 com o disco novo do The Rapture e outro do Fundo de Quintal? Porque não posso mudar minhas convicções de acordo com meu pensamento atual? Porque não posso acordar hoje extremamente apaixonado e amanhã não sentir o mesmo? Somos mutáveis, camaleões, por mais que vez ou outra pensarmos que não, que não mudamos nunca.
Rótulos são para mercadorias espalhadas na vitrine de um supermercado. Definições são tão chatas, pois limitam cada ser humano a um pequeno universo que não lhe é suficiente. Não defina ninguém, não permita que ninguém lhe defina. Entenda que gostos pessoais são diferentes da tua personalidade e no final das contas, o que vale mesmo é o teu caráter, a nobreza da tua alma. Deixe os outros pensarem que tua vida é de um jeito, mas nunca ceda para que isso realmente aconteça.
Definições? Para quê? Para quem? Prefiro me ausentar e não dizer como sou, quem sou, de onde venho, prefiro que me descubram aos poucos e percebam todas as minhas inúteis virtudes, todos meus erros absurdos. Prefiro que me digam quem sou, para que marque no meu total inconsciente as impressões que deixo, que uma pessoa normal aparenta ser. Prefiro, quando consigo, esperar ao invés de me afobar, relaxar em vez de estressar, viver tranqüilo quando todos se preocupam, amar quando assim for chamado pelo amor.
Deixo essas pobres definições, para quem precise delas, eu sou apenas eu, por mais banal que isso possa parecer.