sábado, 22 de outubro de 2005

Belle´s Crônica

Ainda há tempo para se amar e ser livre
Perceba, insista no que estás sentindo
Não desapareça de mim bela garota
Volte hoje para o meu lar, para o meu corpo
Ainda existem pessoas se erguendo
Não precisamos mais buscar saídas
Que amor é esse que não enxergamos?
Esqueça o que te mentiram sobre a vida
Ainda podem me enterrar vivo e seco
Porque ficar ao lado de uma garota infeliz?
Escute Jim Morrison, sinta sua poesia
Ninguém chora mais sozinho hoje em dia
E nesse circo de pulgas amestradas
Realmente não sei como esquecer o vento
Trazendo seu perfume levemente no ar
A fantasiar o doce amargo de uma manhã.
Obs: Texto escrito há muito tempo atrás, quando só o que se ouvia no som era a brilhante e eterna música do The Doors. Puro e sincero devaneio.

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Lucas e Bianca

Há muito tempo atrás, em uma galáxia distante, dentro de um país qualquer perdido pelo espaço sideral, havia um garoto de doze anos, que se chamava Lucas passeando pela mesma rua de todo dia, a sua rua habitual, como em qualquer manhã. Porém, esse dia acabou por se tornar especial em sua vida, pois algo de estranho ocorreu. Ele observou que naquela casa cinza que outrora parecera sombria, haviam chegado novos moradores, tendo entre eles uma linda jovem, que o fez em um súbito instante interessar-se por ela, passando a observá-la diariamente.
Os dias passavam e o garoto sempre observando, parando, olhando para ver se via alguma coisa, mas a linda jovem não saia de casa regularmente, somente às 17:00hs para regar as plantas do jardim, em um ritual sem lógica, que instigava Lucas mais e mais.
Já se passara mais de dois meses desde que a tal garota se mudara para a sua rua e nada de sair de casa. Comentava-se entre a sua turma que os pais dela, que também eram vistos raramente, eram muito severos e não permitiam a pobre menina de ter amigos. Contavam também que eles haviam se mudado para o bairro, porque onde moravam o pai dela havia surrado um garoto que tentara se aproximar, e isso folclore ou não, afastava cada vez mais todos de quaisquer contatos. Menos Lucas.
Lucas conseguira um trunfo. Descobrira o nome da menina, era Bianca, doce e suave assim. Havia descoberto através de um filho da empregada da casa de um tio-avô do seu pai e para ele isso já não importava, o que realmente valia era que a partir desse momento Lucas só pensava em Bianca, a imaginar sua voz, o seu jeito e a sonhar com ela a cada instante do seu dia.
Às vezes passava o dia sem comer escondido à frente da casa dela, na esperança de vê-la fora do seu habitual horário. Seus amigos achavam que ele estava louco, pois já não estudava, não jogava bola, não saia para azarar as meninas da vizinhança, passou até a faltar às reuniões de filme pornô, sendo que o aconselhavam sistematicamente a parar com isso, que o pai dela poderia pegá-lo e aplicar-lhe uma surra, mas nada disso tirava seu empenho. Aquele garoto de 12 anos conhecia pela primeira vez, o sentimento mais nobre que nutrimos, conhecia o amor.
E se passavam meses e meses e Lucas continuava lá abstêmio em frente à casa de Bianca, até que um dia ela não saiu para regar o jardim. Lucas espantou-se. Mais um dia e nada. Uma semana se passou e Lucas já começava a ter a tristeza como companheira. Até que o menino, já no auge dos seus 13 anos, resolveu ir à casa de sua amada, saber o que tinha acontecido, tendo como platéia todos os seus amigos, presenciando esse fato de rara coragem e vontade.
Quando bateu na porta, uma senhora doce, de rosto suave perguntou o que ele queria, Lucas gaguejando com o coração na mão em disparada, perguntou por Bianca, a mãe dela questionou se ele a conhecia e o mandou entrar. Eis que surge um homem alto, forte, barbudo vindo em sua direção. Era o pai dela. Lucas tremia, suava feito um louco no deserto, mas conseguiu agüentar tudo e contar a sua história.
Foi então que ficou sabendo que Bianca estava muito doente e por isso já não regava as plantas do seu jardim, que o seu pai realmente tinha surrado alguém, mas não era um garoto e sim um rapaz com 20 e poucos anos que tentava se aproveitar de sua filha e que ela desde esse acontecimento perdeu a alegria, ficou calada, fechada para o mundo, por mais que seus pais, que eram ótimas pessoas a incentivassem a ter amigos, ela nada queria.
Depois disso tudo, Lucas conheceu Bianca e os dois tornaram-se grandes amigos, mas ela piorava a cada dia e ele passou a levar uma rosa para o seu quarto, ficando a conversar por horas e horas durante mais uns dois anos. Até que um dia, Bianca não agüentou mais e faleceu. Seus pais acharam no seu quarto um bilhete escrito pouco antes de sua morte, em que ela falava que sua vida tinha valido, pois conhecera Lucas e terminava dizendo que o amava, pensava que ele lhe visitava por pena ou caridade, uma vez que ele nunca lhe contara nada.
Lucas sofreu, chorou, com a perda de seu primeiro amor e até hoje reza para Bianca todos os dias, mesmo com seus 40 e poucos anos, casado e com filhos, guarda sua lembrança dentro de seu coração, uma lembrança boa daquele amor de menina que conhecera na juventude. Não esquece-se um grande amor, quando verdadeiro.E é assim que a vida se demonstra no caminho de vez em quando, feia ou bonita, está ai para ser vivida e amada.

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Urgências

Passamos boa parte da nossa vida correndo, nos esforçando ao máximo no nosso trabalho, nos nossos estudos e em outras coisas que achamos ser relevantes, sempre estamos trabalhando em coisas urgentes, depois outras mais urgentes, formando uma tremenda bola de neve com nossas causas e prazos. Passamos uma grande fatia da nossa vida, resolvendo as “urgências” que aparecem e isso nos faz esquecer de perceber e dar valor a outras coisas que no momento julgamos menores, bem menos necessárias, mas que irremediavelmente serão as que vão valer algo no futuro, serão as coisas que mais sentiremos falta.
Dia desses estava vendo uma entrevista de um grande empresário paulista, que quando perguntado pela repórter se era feliz por ter alcançado tudo que tinha, respondeu que sim, por ter conseguido mostrar ao mundo que era capaz e por poder se dar ao luxo de não se preocupar se haveria comida ou não na sua mesa no dia seguinte. Fiquei pensando. Será que o contexto de felicidade é tão pequeno assim? (claro que respeitando que tal conceito é diferente de pessoa a pessoa, como diria aquela canção “...ninguém é igual a ninguém...”), será que para ser feliz basta ser reconhecido e não passar fome?(é lógico também que para os milhares de miseráveis que existem no Brasil, isso estaria de bom tamanho, mas isso já é uma outra história...).
Será que devemos nos contentar a isso e passar a vida toda construindo patrimônios que nunca vamos usufruir de verdade? É, porque nesse corre-corre de cada dia, envolvidos em mil e uma situações, às vezes passamos batidos em observar o valor de coisas que depois iremos nos queixar em nossa velhice que nunca fizemos. Por isso, devemos perceber que claro, temos que trabalhar e construir nosso futuro, mas não podemos em hipótese alguma esquecer de aproveitar o que julgamos de bom nessa vida.
Claro que desejo ter uma vida confortável para mim e para minha família, mas também desejo muito sentar em uma mesa vinte anos mais tarde e poder contar tudo aquilo que fiz, todos os erros que cometi, todas as loucuras que porventura inventei. Quero poder rir dessas situações e me revigorar para enfrentar de novo as urgências do meu mundo, continuando a brigar por algo melhor, algo que me traga paz.
Espero sinceramente nunca ter que me contentar com o que a vida me oferece, quero poder ir atrás cada vez mais de novas experiências, conhecendo novas pessoas, novos lugares, vivendo novos amores. Não quero chegar aos meus 50 anos sentado em uma mesa de vidro, dentro de uma sala bonita, sendo uma pessoa infeliz, que tem como a principal hora do dia, quando demonstra aos seus empregados quem manda de verdade, humilhando pelo poder quem atravessar seu caminho, ou a hora em que expõe seus carros e casas para os outros, contando vantagens, não contribuindo em nada para o bem da sociedade de uma maneira geral.
Quero sim, se Deus me acompanhar, chegar aos 50 de bem com a vida, de posse de bens que me sejam suficientes e nunca desnecessários, sabendo que vivi da forma mais intensa que pude, sabendo que se um dia cometi erros, eles foram por escolha minha e não de terceiros, sabendo que tentei extrair da vida até a última gota, que tive a nobreza de mudar de opinião quando estava errado, entretanto sem nunca deixar de defender meus ideais, aquilo que realmente acredito, sabendo que pude sim mudar um pouco a cada dia e assim tentar me tornar um ser humano melhor. Sabendo principalmente que em toda minha vida a maior urgência que tive foi viver.

sábado, 1 de outubro de 2005

A Canção Do Falso Herói


Então sou eu esse herói que retorna
À velha casa coberta de poeira e cinzas
Então sou eu o comovido mocinho
A salvar a bela donzela do eminente mal
Então sou esse homem milionário
Que ajuda as pobres crianças das ruas
Então sou eu um simbolo de sucesso
Que se farta de livros de auto ajuda
Então sou eu esse pai maravilhoso
Que aparece em comerciais de natal
Então sou eu esse cristão ardoroso
Inundando as pessoas com meu mal
Porque me cabem imagens tão falsas?
Porque me cobram atitudes tão “caras”?