segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Urgências

Passamos boa parte da nossa vida correndo, nos esforçando ao máximo no nosso trabalho, nos nossos estudos e em outras coisas que achamos ser relevantes, sempre estamos trabalhando em coisas urgentes, depois outras mais urgentes, formando uma tremenda bola de neve com nossas causas e prazos. Passamos uma grande fatia da nossa vida, resolvendo as “urgências” que aparecem e isso nos faz esquecer de perceber e dar valor a outras coisas que no momento julgamos menores, bem menos necessárias, mas que irremediavelmente serão as que vão valer algo no futuro, serão as coisas que mais sentiremos falta.
Dia desses estava vendo uma entrevista de um grande empresário paulista, que quando perguntado pela repórter se era feliz por ter alcançado tudo que tinha, respondeu que sim, por ter conseguido mostrar ao mundo que era capaz e por poder se dar ao luxo de não se preocupar se haveria comida ou não na sua mesa no dia seguinte. Fiquei pensando. Será que o contexto de felicidade é tão pequeno assim? (claro que respeitando que tal conceito é diferente de pessoa a pessoa, como diria aquela canção “...ninguém é igual a ninguém...”), será que para ser feliz basta ser reconhecido e não passar fome?(é lógico também que para os milhares de miseráveis que existem no Brasil, isso estaria de bom tamanho, mas isso já é uma outra história...).
Será que devemos nos contentar a isso e passar a vida toda construindo patrimônios que nunca vamos usufruir de verdade? É, porque nesse corre-corre de cada dia, envolvidos em mil e uma situações, às vezes passamos batidos em observar o valor de coisas que depois iremos nos queixar em nossa velhice que nunca fizemos. Por isso, devemos perceber que claro, temos que trabalhar e construir nosso futuro, mas não podemos em hipótese alguma esquecer de aproveitar o que julgamos de bom nessa vida.
Claro que desejo ter uma vida confortável para mim e para minha família, mas também desejo muito sentar em uma mesa vinte anos mais tarde e poder contar tudo aquilo que fiz, todos os erros que cometi, todas as loucuras que porventura inventei. Quero poder rir dessas situações e me revigorar para enfrentar de novo as urgências do meu mundo, continuando a brigar por algo melhor, algo que me traga paz.
Espero sinceramente nunca ter que me contentar com o que a vida me oferece, quero poder ir atrás cada vez mais de novas experiências, conhecendo novas pessoas, novos lugares, vivendo novos amores. Não quero chegar aos meus 50 anos sentado em uma mesa de vidro, dentro de uma sala bonita, sendo uma pessoa infeliz, que tem como a principal hora do dia, quando demonstra aos seus empregados quem manda de verdade, humilhando pelo poder quem atravessar seu caminho, ou a hora em que expõe seus carros e casas para os outros, contando vantagens, não contribuindo em nada para o bem da sociedade de uma maneira geral.
Quero sim, se Deus me acompanhar, chegar aos 50 de bem com a vida, de posse de bens que me sejam suficientes e nunca desnecessários, sabendo que vivi da forma mais intensa que pude, sabendo que se um dia cometi erros, eles foram por escolha minha e não de terceiros, sabendo que tentei extrair da vida até a última gota, que tive a nobreza de mudar de opinião quando estava errado, entretanto sem nunca deixar de defender meus ideais, aquilo que realmente acredito, sabendo que pude sim mudar um pouco a cada dia e assim tentar me tornar um ser humano melhor. Sabendo principalmente que em toda minha vida a maior urgência que tive foi viver.

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