sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Lucas e Bianca

Há muito tempo atrás, em uma galáxia distante, dentro de um país qualquer perdido pelo espaço sideral, havia um garoto de doze anos, que se chamava Lucas passeando pela mesma rua de todo dia, a sua rua habitual, como em qualquer manhã. Porém, esse dia acabou por se tornar especial em sua vida, pois algo de estranho ocorreu. Ele observou que naquela casa cinza que outrora parecera sombria, haviam chegado novos moradores, tendo entre eles uma linda jovem, que o fez em um súbito instante interessar-se por ela, passando a observá-la diariamente.
Os dias passavam e o garoto sempre observando, parando, olhando para ver se via alguma coisa, mas a linda jovem não saia de casa regularmente, somente às 17:00hs para regar as plantas do jardim, em um ritual sem lógica, que instigava Lucas mais e mais.
Já se passara mais de dois meses desde que a tal garota se mudara para a sua rua e nada de sair de casa. Comentava-se entre a sua turma que os pais dela, que também eram vistos raramente, eram muito severos e não permitiam a pobre menina de ter amigos. Contavam também que eles haviam se mudado para o bairro, porque onde moravam o pai dela havia surrado um garoto que tentara se aproximar, e isso folclore ou não, afastava cada vez mais todos de quaisquer contatos. Menos Lucas.
Lucas conseguira um trunfo. Descobrira o nome da menina, era Bianca, doce e suave assim. Havia descoberto através de um filho da empregada da casa de um tio-avô do seu pai e para ele isso já não importava, o que realmente valia era que a partir desse momento Lucas só pensava em Bianca, a imaginar sua voz, o seu jeito e a sonhar com ela a cada instante do seu dia.
Às vezes passava o dia sem comer escondido à frente da casa dela, na esperança de vê-la fora do seu habitual horário. Seus amigos achavam que ele estava louco, pois já não estudava, não jogava bola, não saia para azarar as meninas da vizinhança, passou até a faltar às reuniões de filme pornô, sendo que o aconselhavam sistematicamente a parar com isso, que o pai dela poderia pegá-lo e aplicar-lhe uma surra, mas nada disso tirava seu empenho. Aquele garoto de 12 anos conhecia pela primeira vez, o sentimento mais nobre que nutrimos, conhecia o amor.
E se passavam meses e meses e Lucas continuava lá abstêmio em frente à casa de Bianca, até que um dia ela não saiu para regar o jardim. Lucas espantou-se. Mais um dia e nada. Uma semana se passou e Lucas já começava a ter a tristeza como companheira. Até que o menino, já no auge dos seus 13 anos, resolveu ir à casa de sua amada, saber o que tinha acontecido, tendo como platéia todos os seus amigos, presenciando esse fato de rara coragem e vontade.
Quando bateu na porta, uma senhora doce, de rosto suave perguntou o que ele queria, Lucas gaguejando com o coração na mão em disparada, perguntou por Bianca, a mãe dela questionou se ele a conhecia e o mandou entrar. Eis que surge um homem alto, forte, barbudo vindo em sua direção. Era o pai dela. Lucas tremia, suava feito um louco no deserto, mas conseguiu agüentar tudo e contar a sua história.
Foi então que ficou sabendo que Bianca estava muito doente e por isso já não regava as plantas do seu jardim, que o seu pai realmente tinha surrado alguém, mas não era um garoto e sim um rapaz com 20 e poucos anos que tentava se aproveitar de sua filha e que ela desde esse acontecimento perdeu a alegria, ficou calada, fechada para o mundo, por mais que seus pais, que eram ótimas pessoas a incentivassem a ter amigos, ela nada queria.
Depois disso tudo, Lucas conheceu Bianca e os dois tornaram-se grandes amigos, mas ela piorava a cada dia e ele passou a levar uma rosa para o seu quarto, ficando a conversar por horas e horas durante mais uns dois anos. Até que um dia, Bianca não agüentou mais e faleceu. Seus pais acharam no seu quarto um bilhete escrito pouco antes de sua morte, em que ela falava que sua vida tinha valido, pois conhecera Lucas e terminava dizendo que o amava, pensava que ele lhe visitava por pena ou caridade, uma vez que ele nunca lhe contara nada.
Lucas sofreu, chorou, com a perda de seu primeiro amor e até hoje reza para Bianca todos os dias, mesmo com seus 40 e poucos anos, casado e com filhos, guarda sua lembrança dentro de seu coração, uma lembrança boa daquele amor de menina que conhecera na juventude. Não esquece-se um grande amor, quando verdadeiro.E é assim que a vida se demonstra no caminho de vez em quando, feia ou bonita, está ai para ser vivida e amada.

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