domingo, 11 de dezembro de 2005

A Música Popular Brasileira

Na identidade cultural do nosso país pelo mundo afora, sempre nos identificam como a terra do futebol e da música (seja samba ou outra qualquer), sendo que evidentemente essa imagem é meio distorcida, servindo de estereótipo, pois afinal de contas temos muito mais do que isso na nossa “identidade cultural”. Mas a questão que será abordada não se reflete a isso, mas sim a colocação dos “ídolos” da nossa música popular brasileira, nossa querida mpb nos dias atuais.
Determinados artistas levaram a música brasileira a um patamar de admiração no mundo todo pela diversidade e qualidade de suas composições e melodias. Caetano Veloso, Tom Jobim, Gilberto Gil, João Gilberto, Chico Buarque, Jorge Ben, Maria Betânia, entre outros, são pilares de todo um processo de excelência musical pelo nosso país demonstrado e consolidado a partir dos anos 60.
Dentro desse contexto de genialidade é meio frustrante para uma geração de fãs, absorverem as recentes obras desses compositores. O que um dia foi revolta se transformou em acomodação, o que era inovador virou lugar comum e nada parece abalar a convicção de que pelo que eles já fizeram não podem ser criticados, se tornando artistas acima de qualquer suspeita.
Desses que citei acima, com exceção de Tom Jobim (por motivos óbvios, visto seu falecimento) e Chico Buarque (sempre relevante), os outros lançam discos cada vez menos inspirados e nos moldes de suas canções anteriores. Caetano Veloso por exemplo, um dos idealizadores da tropicália, parte essencial na ressurreição da nossa música, inovador, com discos essenciais dos anos 60 a 80, não lança nada que vale a pena se considerar desde “Circuladô” de 1991. Ao contrário disso, investe na fórmula de regravar canções de outros estilos em seu esquema voz e violão para vender em novelas e tocar no rádio. É muito pouco para alguém do porte dele.
Nosso ministro da cultura Gilberto Gil, também não lança nada inédito que tenha qualidade há muito tempo, se atendo a discos de regravações conceituais como as homenagens a Bob Marley (que é muito boa, mas não é trabalho dele) e a música junina. Maria Bethânia opta em lançar discos cheios de pose, mas sempre com a mesma idéia e concepção. Jõao Gilberto, o pai da bossa nova, é um eterno eremita. Jorge Ben desde que virou Benjor tem sua qualidade musical diminuída ano a ano, com raras exceções como o acústico mtv de anos atrás.
Dessa forma, é bastante difícil culpar alguém mais jovem que comece a despejar criticas e mais criticas ao trabalho desse rol de artistas, visto que sua produção musical que é de uma qualidade assustadora e fundamental, nos últimos 10, 15 anos vem constantemente perdendo a importância, devido a acomodação que tomou conta, uma vez que é difícil de acreditar em perda de talento com tanta coisa relevante já feita anteriormente.
Nesse contexto todo, quem perde com isso é a nossa música, nossa cultura, que se vê cada vez mais jogada a modismos passageiros e a proliferação de estilos sem tanta qualidade, ajudando em parte a fechar mais ainda o circo que toma conta da industria fonográfica brasileira. É fato que tem novos compositores como Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, Paulinho Moska, Marisa Monte, Arnaldo Antunes entre outros, lutando para revitalizar o cenário e torcemos seriamente para que sejam capazes disso. Enquanto isso, é torcer que os nomes consagrados voltem a lançar bons discos e ajudem a tornar nossa música mais interessante do que está hoje.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

A vida é uma piada

“A vida é uma piada, uma grande piada maravilhosa como aquela canção...”, pensa em voz alta Benjamin Trotter no livro “Bem vindo ao Clube” do inglês Jonathan Coe. Em um momento de reflexão, o personagem dá uma exorcizada em seus demônios pessoais, frustrações, preocupações e tenta mudar o rumo do seu destino, nesse belo livro que vale muito a pena ser lido.
Na maioria das vezes levamos a vida à sério demais, essa vida tão frágil que temos, tratamos dela como se fosse um contrato de locação de imóvel com regras e mais regras, sem surpresas, utilizando apenas o caminho previamente combinado para seguir em frente. Não que a vida não mereça ser levada a sério, mas simplesmente abusamos disso. Cada pequeno problema do dia a dia, que poderia muito bem ser apagado, ser suprimido, ser desconsiderado gera uma enorme confusão, alcança proporções inimagináveis, transformamos tudo como questão primordial.
Acordamos, levantamos e ao caminhar para o banheiro damos uma topada em algo, é quando a cara fecha, gritam-se impropérios contra a força divina do acaso, toma o café da manhã emburrado, esquece-se de dar bom dia e chega no trabalho já desgastado. Se alguém nos joga uma piadinha, ou fala algo que não gostamos, ao invés de ignorar e seguir em frente deixando o imbecil que falou se achando o máximo (quando na verdade ele é um idiota e você sabe disso), você volta, cria um atrito e depois ainda bate no peito ao dizer em uma mesa de bar que é “daqueles que não levam desaforo para casa”.
Simplesmente me pergunto, pra quê? Porque não deixar a vida seguir seu rumo normal, o que tiver que ser será, seja hoje ou daqui a vinte anos, gastar nossa energia com tanta besteira enquanto há tanto para se viver, para se dizer, para se cuidar. É se preocupando com essas picuinhas que esquecemos de dizer um obrigado a quem merece, um bom dia para o gari da rua, abraçar um amigo e dizer o quanto ele é importante, chegar com tua mãe e escutá-la com carinho, dar um beijo no seu filho brincando de alguma coisa, ou chamar a pessoa de quem gosta e dizer um “eu te amo” simples e funcional e que não tira pedaço nenhum.
O grande amor da sua vida ainda não chegou? Paciência, um dia virá. O seu trabalho anda uma porcaria? Mude, arrume outro. A vida anda ruim? Invente novas coisas, novos caminhos. O que não dá é para deixar qualquer coisa ser a função básica da vida, tem muita coisa que vale a pena ser buscada e todas elas não chegam a ser o “fim”, mas funcionam como “meios” de conseguir aquilo que mais se almeja, que é viver, viver feliz, viver em paz.
Achando graça e sorrindo como se fosse uma grande piada...

domingo, 4 de dezembro de 2005

Inertes Desejos

Sem rumo que me mantenha sóbrio
Consumo a vida, vicio as horas
Emprego frases idiotas ao leú
Uso trajes falsos, engano o céu
Sem destino que me seja útil
Invado a tua mente vencida
Uso dos mais sujos truques
Te convenço de que és minha
Iludo minha emoção com a tua
Insisto em tua boca sem sexo
Acaricio o teu instinto sozinho
Sendo a piada nas rodas vizinhas
Mergulho na inércia da noite
Jogo meu corpo contra tudo
Termino em uma cama imunda
Ao mais louco e triste sussurro

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Cabelos Brancos

Não estou mais na fase de ter muitas descobertas físicas com certeza, mas esses dias tive uma que realmente me assustou, aliás sendo bem honesto me deixou em pânico, completo e total. Já passei há tempos da fase de se admirar pelo nascimento de pêlos pelo corpo, seja pelas axilas ou áreas pubianas, pelo nascimento das espinhas e outras descobertas inerentes ao nosso crescimento natural, mais nada me assustou ou me deixou mais perturbado do que meu primeiro cabelo branco.
Decerto esse não foi o primeiro em si, mas com certeza foi a primeira vez que percebi. Acho que depois dessa visão mais uns cinco cresceram só de preocupação com o primeiro e acho que também para não deixá-lo muito sozinho. Eu que já passei pela fase dos 30 aos 20 anos e hoje com meus 26 anos estou entregue a crise dos 40, fiquei pasmo. Ninguém quer envelhecer, isso é verdade, apesar de às vezes por vontade de dar uma de intelectual, dizer "que envelhecer é uma arte", isso é pura balela, na hora do vamos ver, todo mundo corre.
Só sei que não estava preparado para isso. O homem nunca está. Apesar de nos últimos tempos meus amigos viverem me chamando de velho pelas minhas atitudes, aliás, pela renuncia de muitas das minhas digamos assim "atividades", e eu achar isso bacana, tipo "To ficando cansado dessas coisas", ou "Não tenho mais saco para isso", a verdade é que você fica puto porque não agüenta mais ser o mesmo cara dos teus 18 anos.
Tenho que rejuvenescer, foi o que me veio a cabeça, ainda incomodado com este ser estranho, quase um "alien", todo branquinho, zoando com os negros do lugar sem medo, se impondo, meio louco e assimilando a forma com que me deixara bagunçado. Pensei primeiro em cortar o fio desgraçado, mas isso seria muito cruel e afinal cresceriam outros, pintar o cabelo também seria trágico demais, já pensou se alguém descobre? Quando se percebe que o tempo vai passando, o que mais se quer é colocar coisas que impeçam essa impressão de se prolongar, tipo comprar camisetas alegres, blusas floridas, andar com meia no tênis, fazer umas tatuagens, namorar uma menina de 15 anos bem gostosa, ou comprar um carro conversível.
De todas as possibilidades acima, a que me deixou mais alegre seria comprar um Porsche, ou uma Ecosport, mas infelizmente não foi viável quando olhei meu gerenciador financeiro no Banco do Brasil. Fazer o quê, o jeito é se contentar. "Tenho amigos que tem muitos cabelos brancos e são mais jovens que eu", "Quantas coisas já fiz, deveria era estar contente por ter chegado até aqui", "São os últimos meses, tantas coisas para resolver só podia dar nisso". Enquanto tentava me aliviar com algumas considerações dessas, o filha da puta do meu cabelo branco não saia da minha cabeça, literalmente. "Velho é o escambau, quero voltar a ter 18 anos!!!" O desespero bateu.
Colocar um disco do Blink 182 para tocar, ver a malhação, sair para tomar uma cerveja até de manhã com um monte de amigos ou viajar para praia eram decisões a serem tomadas urgentemente. Não fiz nada. Preferi sair para tomar um choppe com uma velha amiga, contei todo meu drama pessoal e no final ela me disse "Não fique assim, esse cabelo branco te deixa mais charmoso, com ar de experiente, ficas melhor assim...".
É para isso que temos bons amigos sabiam? Para te dar uma opinião fascinante em uma hora de desespero e fazer você voltar a sorrir, mesmo sabendo que é tudo mentira. É claro que eu acreditei, afinal não tinha muitas alternativas e quer saber? To me olhando no espelho direto para ver se nascem mais desses seres capilares na minha cabeça, enquanto escuto o "Document", disco do R.E.M de 1987, cantando junto, afinal "It´s the end of the world as we know it i feel fine..."

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Zeus

Tu dizes que me ama
Me acalmo
Me inspiro a acreditar
Tu juras que me adora
Me superestimo
Me faço levitar
Tu me entregas o teu prazer
Me sublimo
Me ponho como Zeus
Tu insistes em ser um só
Me entristeço, te renego
E assim te perco

"God Bless You..."

Dias difíceis os últimos...perder um amigo, alguém que convivemos quase que diariamente, sabemos dos planos, da vida, realmente não é tarefa fácil. Impossível não pensar nesse sorriso, difícil mesmo, impossível não ficar preocupado com o destino que as coisas vão tomar, com as pessoas envolvidas diretamente nessa fatalidade. Por mais que façamos posse de fortes, a noite no quarto, somos frágeis como crianças.
Que Deus te abençoe aí em cima minha amiga, minha prima, minha comadre, invada o céu como sempre fez por aqui, com sua alegria, sua descontração, seu sorriso, suas risadas, invada o céu com todo esse jeito que cativou tantos por aqui, invada o céu fazendo alarde da sua chegada, pois mereces muito.
Em todos esses anos de amizade, tenho certeza que fomos sinceros um com o outro, contamos segredos, compartilhamos alegrias, nos tornamos família (Deus sabe o quanto fiquei feliz em ser padrinho da Samile, lisonjeado, todo besta, não parava de falar)...Tente não se preocupar, faremos de tudo aqui em baixo pela sua loura, pode ficar tranqüila, e sei que irá nos ajudar daí, tenho certeza disso.
Todos temos defeitos e você não fugia disso, afinal de contas somos humanos e erramos muito, mas no seu caso, suas virtudes sempre foram muito maiores do que isso. Ter andado do teu lado é o que agradeço hoje, fazer parte da tua família, ter tido tua confiança tantas e tantas vezes.
Tenho a completa certeza de que tua luz não se apagará e em minha memória sempre ficarão as lembranças dos dias felizes que partilhamos em festas, na tua casa com o Sinval comendo pizza, pelas prais nas férias e em todos os lugares que o teu sorriso e tua risada explodiram do nada.
Siga com a paz dentro da sua alma, para fazer o serviço para que foi chamada a fazer, iluminando aqueles que aqui ficaram, seus pais, irmãs, esposo, filha e amigos, fazendo do céu um lugar muito mais divertido e muito mais amigo de se estar...
"God Bless You..." minha prima...

terça-feira, 1 de novembro de 2005

Dom de Iludir

Ele era um quarentão enxuto, solteiro, figurinha carimbada nas noites da cidade, que se achava um verdadeiro Don Juan saindo para "caçar" sempre sozinho, acompanhado apenas de um copo de uísque na mão, que na verdade nunca bebera era só para fazer charme, como costumava afirmar. Ela era magnifica, no alto de seus 30 e poucos anos, com um ar de Demi Moore no rosto, parecendo imponente, independente, esbanjando auto suficiência nos gestos, uma verdadeira mulher dos novos tempos.
Se encontraram no ambiente de música ao vivo da danceteria, onde o Solano Quartet esbanjava um jazz e mpb de alto nível. Determinado hora, os olhos se entrelaçaram de forma suspeita e indicativa, ele fazendo pose em um canto do balcão e ela com um cruzar de pernas fascinante do outro lado.
Ele pediu outra dose de uísque, mandou o barman que jogasse fora a antiga, visto que estava só água e partiu ao encontro dela, puxando a mais barata das cantadas conhecidas:
-Boa noite, estava lá do outro lado e não pude deixar de notar sua beleza, vens sempre aqui?
-Não, hoje é a primeira vez.
-Agradável esse ambiente, não?
-Para falar a verdade, não estou gostando muito.
-Mas a música está boa, há de convir...
-Eu nunca gostei muito de Miles Davis, ela diz.
-Olha, você pode até não acreditar, mas acho que te conheço de algum lugar (sim, ele soltou essa pérola)...
-Só se for do supermercado.-
Porquê? Não costumas sair de casa com freqüência?
-Só para o trabalho.
-Desculpe minha modesta intromissão, mas trabalhas com o quê?-
Sou editora.
-Que interessante, gosto muito do Milan Kundera, acho aquele livro dele "A Brincadeira", muito intenso, concordas?
-Prefiro "A Imortalidade".
-E de literatura beatnik, gostas?
-Odeio! Acho os autores um monte de rebeldes sem causa.
-Mas as palavras deles marcaram uma geração..., insiste ele.
-Odeio Beatles, beatniks e principalmente bitolados, detona ela.
-Você deve gostar dos Stones, então?
-Não, Frank Sinatra.
Ele para, "Ela parece ser inteligente", pensa. Na verdade não conhecia nada de jazz e muito menos de literatura, sabia o nome de alguns autores e livros que usava como charme barato para impressionar as mulheres mais distraídas, não tinha a mínima idéia do que era um beatnik e muito menos sabia quem era esse tal de Milan Kundera, sobre quem tinha lido alguma coisa na Bravo! do mês passado.
E apesar de não estar dando uma dentro, ele era brasileiro e não desistia nunca, partia de novo ao ataque aproveitando a deixa de uma música do Caetano, esse sim ele conhecia, tinha todos seus discos, livros, colecionava autógrafos e tudo mais.
-Essa música é maravilhosa....
-Eu não acho, retruca ela.
-Você não gosta de Caetano? Não acredito?
-Tenho é raiva, acho ele forçado e gay.
"Agora parou", pensa ele. "Dar uma de difícil, me esnobar, não gostar de Beatles, tudo bem, agora chamar o Caetano de bicha não dá, pô!".
-Pois bem, acho que está chegando minha hora, já vou embora.
-Porquê?
-Porquê? Droga, você fica me encarando, cruzando as pernas direto na minha direção, quando eu chego para falar contigo, discordas de mim a toda hora, fica me enrolando e ainda por cima chama o Caetano de gay e ainda queres saber o porquê? Tenha paciência, tchau! Vou Dormir!
-No meu apartamento ou no seu?
E de noite naquele quarto em uma tórrida noite de amor, ao fundo toca "Dom de Iludir" do Caetano, fazendo ecoar pelo ar as frases:
"Não me venha falar da malícia de toda mulher...como pode querer que a mulher vá viver sem mentir...."

sábado, 22 de outubro de 2005

Belle´s Crônica

Ainda há tempo para se amar e ser livre
Perceba, insista no que estás sentindo
Não desapareça de mim bela garota
Volte hoje para o meu lar, para o meu corpo
Ainda existem pessoas se erguendo
Não precisamos mais buscar saídas
Que amor é esse que não enxergamos?
Esqueça o que te mentiram sobre a vida
Ainda podem me enterrar vivo e seco
Porque ficar ao lado de uma garota infeliz?
Escute Jim Morrison, sinta sua poesia
Ninguém chora mais sozinho hoje em dia
E nesse circo de pulgas amestradas
Realmente não sei como esquecer o vento
Trazendo seu perfume levemente no ar
A fantasiar o doce amargo de uma manhã.
Obs: Texto escrito há muito tempo atrás, quando só o que se ouvia no som era a brilhante e eterna música do The Doors. Puro e sincero devaneio.

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Lucas e Bianca

Há muito tempo atrás, em uma galáxia distante, dentro de um país qualquer perdido pelo espaço sideral, havia um garoto de doze anos, que se chamava Lucas passeando pela mesma rua de todo dia, a sua rua habitual, como em qualquer manhã. Porém, esse dia acabou por se tornar especial em sua vida, pois algo de estranho ocorreu. Ele observou que naquela casa cinza que outrora parecera sombria, haviam chegado novos moradores, tendo entre eles uma linda jovem, que o fez em um súbito instante interessar-se por ela, passando a observá-la diariamente.
Os dias passavam e o garoto sempre observando, parando, olhando para ver se via alguma coisa, mas a linda jovem não saia de casa regularmente, somente às 17:00hs para regar as plantas do jardim, em um ritual sem lógica, que instigava Lucas mais e mais.
Já se passara mais de dois meses desde que a tal garota se mudara para a sua rua e nada de sair de casa. Comentava-se entre a sua turma que os pais dela, que também eram vistos raramente, eram muito severos e não permitiam a pobre menina de ter amigos. Contavam também que eles haviam se mudado para o bairro, porque onde moravam o pai dela havia surrado um garoto que tentara se aproximar, e isso folclore ou não, afastava cada vez mais todos de quaisquer contatos. Menos Lucas.
Lucas conseguira um trunfo. Descobrira o nome da menina, era Bianca, doce e suave assim. Havia descoberto através de um filho da empregada da casa de um tio-avô do seu pai e para ele isso já não importava, o que realmente valia era que a partir desse momento Lucas só pensava em Bianca, a imaginar sua voz, o seu jeito e a sonhar com ela a cada instante do seu dia.
Às vezes passava o dia sem comer escondido à frente da casa dela, na esperança de vê-la fora do seu habitual horário. Seus amigos achavam que ele estava louco, pois já não estudava, não jogava bola, não saia para azarar as meninas da vizinhança, passou até a faltar às reuniões de filme pornô, sendo que o aconselhavam sistematicamente a parar com isso, que o pai dela poderia pegá-lo e aplicar-lhe uma surra, mas nada disso tirava seu empenho. Aquele garoto de 12 anos conhecia pela primeira vez, o sentimento mais nobre que nutrimos, conhecia o amor.
E se passavam meses e meses e Lucas continuava lá abstêmio em frente à casa de Bianca, até que um dia ela não saiu para regar o jardim. Lucas espantou-se. Mais um dia e nada. Uma semana se passou e Lucas já começava a ter a tristeza como companheira. Até que o menino, já no auge dos seus 13 anos, resolveu ir à casa de sua amada, saber o que tinha acontecido, tendo como platéia todos os seus amigos, presenciando esse fato de rara coragem e vontade.
Quando bateu na porta, uma senhora doce, de rosto suave perguntou o que ele queria, Lucas gaguejando com o coração na mão em disparada, perguntou por Bianca, a mãe dela questionou se ele a conhecia e o mandou entrar. Eis que surge um homem alto, forte, barbudo vindo em sua direção. Era o pai dela. Lucas tremia, suava feito um louco no deserto, mas conseguiu agüentar tudo e contar a sua história.
Foi então que ficou sabendo que Bianca estava muito doente e por isso já não regava as plantas do seu jardim, que o seu pai realmente tinha surrado alguém, mas não era um garoto e sim um rapaz com 20 e poucos anos que tentava se aproveitar de sua filha e que ela desde esse acontecimento perdeu a alegria, ficou calada, fechada para o mundo, por mais que seus pais, que eram ótimas pessoas a incentivassem a ter amigos, ela nada queria.
Depois disso tudo, Lucas conheceu Bianca e os dois tornaram-se grandes amigos, mas ela piorava a cada dia e ele passou a levar uma rosa para o seu quarto, ficando a conversar por horas e horas durante mais uns dois anos. Até que um dia, Bianca não agüentou mais e faleceu. Seus pais acharam no seu quarto um bilhete escrito pouco antes de sua morte, em que ela falava que sua vida tinha valido, pois conhecera Lucas e terminava dizendo que o amava, pensava que ele lhe visitava por pena ou caridade, uma vez que ele nunca lhe contara nada.
Lucas sofreu, chorou, com a perda de seu primeiro amor e até hoje reza para Bianca todos os dias, mesmo com seus 40 e poucos anos, casado e com filhos, guarda sua lembrança dentro de seu coração, uma lembrança boa daquele amor de menina que conhecera na juventude. Não esquece-se um grande amor, quando verdadeiro.E é assim que a vida se demonstra no caminho de vez em quando, feia ou bonita, está ai para ser vivida e amada.

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Urgências

Passamos boa parte da nossa vida correndo, nos esforçando ao máximo no nosso trabalho, nos nossos estudos e em outras coisas que achamos ser relevantes, sempre estamos trabalhando em coisas urgentes, depois outras mais urgentes, formando uma tremenda bola de neve com nossas causas e prazos. Passamos uma grande fatia da nossa vida, resolvendo as “urgências” que aparecem e isso nos faz esquecer de perceber e dar valor a outras coisas que no momento julgamos menores, bem menos necessárias, mas que irremediavelmente serão as que vão valer algo no futuro, serão as coisas que mais sentiremos falta.
Dia desses estava vendo uma entrevista de um grande empresário paulista, que quando perguntado pela repórter se era feliz por ter alcançado tudo que tinha, respondeu que sim, por ter conseguido mostrar ao mundo que era capaz e por poder se dar ao luxo de não se preocupar se haveria comida ou não na sua mesa no dia seguinte. Fiquei pensando. Será que o contexto de felicidade é tão pequeno assim? (claro que respeitando que tal conceito é diferente de pessoa a pessoa, como diria aquela canção “...ninguém é igual a ninguém...”), será que para ser feliz basta ser reconhecido e não passar fome?(é lógico também que para os milhares de miseráveis que existem no Brasil, isso estaria de bom tamanho, mas isso já é uma outra história...).
Será que devemos nos contentar a isso e passar a vida toda construindo patrimônios que nunca vamos usufruir de verdade? É, porque nesse corre-corre de cada dia, envolvidos em mil e uma situações, às vezes passamos batidos em observar o valor de coisas que depois iremos nos queixar em nossa velhice que nunca fizemos. Por isso, devemos perceber que claro, temos que trabalhar e construir nosso futuro, mas não podemos em hipótese alguma esquecer de aproveitar o que julgamos de bom nessa vida.
Claro que desejo ter uma vida confortável para mim e para minha família, mas também desejo muito sentar em uma mesa vinte anos mais tarde e poder contar tudo aquilo que fiz, todos os erros que cometi, todas as loucuras que porventura inventei. Quero poder rir dessas situações e me revigorar para enfrentar de novo as urgências do meu mundo, continuando a brigar por algo melhor, algo que me traga paz.
Espero sinceramente nunca ter que me contentar com o que a vida me oferece, quero poder ir atrás cada vez mais de novas experiências, conhecendo novas pessoas, novos lugares, vivendo novos amores. Não quero chegar aos meus 50 anos sentado em uma mesa de vidro, dentro de uma sala bonita, sendo uma pessoa infeliz, que tem como a principal hora do dia, quando demonstra aos seus empregados quem manda de verdade, humilhando pelo poder quem atravessar seu caminho, ou a hora em que expõe seus carros e casas para os outros, contando vantagens, não contribuindo em nada para o bem da sociedade de uma maneira geral.
Quero sim, se Deus me acompanhar, chegar aos 50 de bem com a vida, de posse de bens que me sejam suficientes e nunca desnecessários, sabendo que vivi da forma mais intensa que pude, sabendo que se um dia cometi erros, eles foram por escolha minha e não de terceiros, sabendo que tentei extrair da vida até a última gota, que tive a nobreza de mudar de opinião quando estava errado, entretanto sem nunca deixar de defender meus ideais, aquilo que realmente acredito, sabendo que pude sim mudar um pouco a cada dia e assim tentar me tornar um ser humano melhor. Sabendo principalmente que em toda minha vida a maior urgência que tive foi viver.

sábado, 1 de outubro de 2005

A Canção Do Falso Herói


Então sou eu esse herói que retorna
À velha casa coberta de poeira e cinzas
Então sou eu o comovido mocinho
A salvar a bela donzela do eminente mal
Então sou esse homem milionário
Que ajuda as pobres crianças das ruas
Então sou eu um simbolo de sucesso
Que se farta de livros de auto ajuda
Então sou eu esse pai maravilhoso
Que aparece em comerciais de natal
Então sou eu esse cristão ardoroso
Inundando as pessoas com meu mal
Porque me cabem imagens tão falsas?
Porque me cobram atitudes tão “caras”?

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Pilulas Imaginárias de um Cotidiano (nem tão imaginário assim...)

I
Paulinho quando criança não diferenciava em nada dos outros meninos da sua turma, brincava, corria, andava de bicicleta e como qualquer outra criança de sua idade ao entrar na sua puberdade tinha desejos e sonhos libidinosos com mulheres. Eram comuns as sessões de filme pornô na casa de algum amigo, as revistas masculinas guardadas embaixo do colchão, a "espiada" nas meninas da sala e coisas do tipo consumadas em posteriores atos de masturbação. A única diferença entre Paulinho e os outros é que ele vinha de uma família extremamente católica, participava do coral da igreja, dos movimentos e isso o externava de culpa quando um padre lhe dizia que se masturbar era "coisa do demônio", que cresceria pêlos em sua mão, inúmeros medos que o aterrorizavam e em sua confissão semanal deixava o garoto rezando uma dezena de ave marias para se redimir de seus graves pecados. Diante disso, Paulinho entrava em um constante atrito entre desejo e medo, uma relação de amor e ódio com suas musas Vera Fischer e Luiza Brunet e constantes surras de seu pai quando achavam suas revistas escondidas. E tome uma dezena de ave marias em outra confissão.Hoje depois de tantos anos, Paulinho não existe mais. Virou Lafayette. Faz ponto na praça da republica enquanto junta dinheiro para conseguir trocar de sexo. E nunca mais se confessou.
II
Carlos Alberto sempre sonhou em ser músico. Enquanto moleque na sua cama pulando e girando com sua guitarra imaginária ao som de Jimmy Page no último volume, esperava ser um rock star. Só tinha um pequeno problema, Carlos Alberto nascera sem o dom para a música. Tentara de tudo, fizera curso de teclado, guitarra, baixo e até bateria, mas em nada demonstrava talento, sua técnica e aptidão para a música eram desprezíveis. Sua vida se tornara um fiasco total, ainda mais quando seus pais lhe cobravam sobre seu "futuro" que não saia, pois não estudava, vivia moribundo pelos cantos. Resolveu se mandar, dar uma volta, morar fora uns tempos, aliviar a cabeça, ter outros sonhos, esquecer da música. Foi para os USA. Fez universidade de jornalismo e se tornou um dos críticos de música mais famosos do mundo escrevendo para a Rolling Stone e o New York Times, onde despeja toda a sua raiva e frustração em textos fulminantes sobre seus ex-idolos e sobre as novas apostas do rock.


segunda-feira, 12 de setembro de 2005


Há uma esperança
Acontecendo em algum lugar
Mas onde quer que eu vá
A solidão sempre me acha
Há um amor perdido
Nas mesas de algum bar
Mas por onde eu queira andar
A solidão sempre me acha
Há palavras no ar
A serem ditas sem pensar
Mas onde quer que eu pense
A solidão sempre me acha
Há tristezas vagando
A serem expurgadas por alguémM
as por onde quer que estejam
A solidão sempre as acha

domingo, 11 de setembro de 2005

Tom Tom´s Song

Todo dia a vida passa
Como num comercial de TV
Milhões de rostos sem graça
Sem nada pra dizer
Vivo isso o tempo todo
Todo tempo já é pouco
Escutando pensamentos tolos
Provando novos sopros
Todo dia a vida enjoa
Como uma canção sem emoção
Baladas de amor à toa
Sem um pingo de paixão
Vivo isso o tempo inteiro
Inteiramente sem porquê
Esmagando cigarros na parede
Procurando o que fazer
Todo dia a vida padece
Nos jardins da solidão
Tantos anos na mesma coisa
Seguindo a mesma procissão
Sinto isso há muito tempo
Tempos nem tão rebeldes
Sorrindo pra quem importa
Agradando quem abre a porta
E assim tudo caminha sem causar satisfação
E assim a vida se prostitui nos cabarés da repetição

sábado, 27 de agosto de 2005

Um Coração, Um Lar

Que a vida te preserve
Descuidada e ingênua
Sem preocupações
Com um sorriso a iluminar
Que assim se carregue
Tudo que se possa sonhar
Na cabeça, uma idéia
No coração, um lar
Que Deus te mantenha
Alegre e sincera
Inspirando-me
Ajudando-me a caminhar
E principalmente que eu te mereça
Cada dia mais e mais
Faça da tua vida um musical
Que possamos pela vida encenar

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

O Tempo Não Passa

Quem vem de familia catolica com certeza deve se lembrar daquele calendario anual que vinha com uma imagem santa e várias folhinhas, uma para cada dia contendo atrás informações diversas. Pode ate soar que isso foi há muito tempo, mas lá em casa continua do mesmo jeito até os nossos dias de hoje.
Como passo a semana quase toda fora de casa (ainda chamo assim, apesar de passar pouco tempo por lá), as folhinhas dos dias só são retiradas aos fins de semana quando retorno e me lembro, sendo que um dia desses do nada parei para pensar que ao contrário do que muitos dizem, o tempo (este quase ser humano) não passa. Pelo menos lá em casa.
De súbito comecei a imaginar como a vida pode ser tão normal, tão tranqüila, seguindo seu rumo devagar, sossegada, sem pressa de acontecer. Meu pai de um lado na sua rotina entre alguns sonos diários, pequenas birras com minha mãe, jogos de futebol, reclamações sobre seus times e rememorando o passado. Minha mãe entre seus afazeres domésticos, suas rezas, missas, e claro agüentando as birras de meu velho, entre uma novela e uma conversa.
Das preocupações que lhe restaram, ficam a saúde dos filhos, o crescimento do netinho adorado, a eterna preocupação em nos ver bem alimentados (como se ainda tivéssemos oito anos) e a sua própria saúde, nada além disso, consumindo a passos lentos os segundos e minutos do dia. Nada parecido com a vida que levamos, nós, pessoas antenadas e pós modernas do século XXI.
É certo que os tempos são outros e com certeza não nos acostumamos em nossa maioria a ser assim. Estamos ocupados demais com a informação, com o nosso trabalho, nossas contas, nossos amores e desamores, além de tudo mais que acharmos necessário. Agendamos tudo. Do trabalho a diversão. Da reunião de resultados ao filme novo do Tarantino. Da ida ao banco até o encontro do fim do dia. Da leitura matinal do jornal ao chopp do fim de tarde. O tempo é o nosso eterno vilão, são tantas coisas para fazer e viver em tão poucas e disputadas horas. Ao contrário lá de casa, lá o tempo é apenas um companheiro.
Da minha vida nômade, pulando de galho em galho, de cidade em cidade, de rua em rua, de bar em bar, curtindo mil músicas ao mesmo tempo, vivendo com arremedos de paixões pelos cantos, não consigo me imaginar com essa conivência com o tempo. Para mim o tempo sempre foi algo a ser superado, algo a ser consumido, comprei até um relógio para me controlar melhor, imaginem!! apesar de ser relaxado do jeito que sou, o tempo sempre preocupa.
E ainda envolto aos meus parcos e inertes pensamentos, retirando mais alguns dias da folhinha, olho pro lado e tento perceber se nada mudou nesses dias, se algo está diferente, quando escuto uma voz suave, terna, vindo lá da cozinha dizendo: “-Drico, queres que eu esquente tua janta?”, respondo que sim a minha mãe e finalizo minhas idéias sabendo que lá em casa realmente o tempo não passa, continua no seu mais puro e belo andamento, sem pressa, na paz. Ainda bem.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Nada Especial

E lá se via ele parado novamente a olhar para o horizonte com a nevoa cobrindo suas percepções, suas ideias, deixando transparecer cada vez mais sua inabilidade para tratar das coisas da vida. Não era a primeira vez nos últimos dias que saia andando a esmo antes de ir trabalhar, precisava reorganizar as ideias, o mundo lhe parecia cada vez mais sujo e vulgar e isso lhe causava um tremendo mal estar.
Havia jogado fora tudo que lembrara seu passado, não queria mais revigorar nada que lhe deixasse mal, queria partir para coisas novas, outras pessoas, estava completamente exausto do mais do mesmo que havia se tornado sua vida. Sempre acreditou que era só esperar, que o tempo, o destino certamente seriam bondosos, mas pura decepção, cada novo dia que passava só agregava mais inutilidades no meio do seu caminho.
Caminho esse que por mais que quisesse não conseguia largar, seu amor ainda era incondicional e nada que fizesse poderia mudar isso. Chegou ao trabalho, deu bom dia a todos, organizou sua agenda, passou pelo orkut e se debruçou novamente sobre seus projetos que não lhe traziam alegria nenhuma ao som de Damien Rice tocando em seu fone. Os pensamentos iam e viam, enquanto ele percebia que não era nada especial, apenas mais um cara normal, sem sorte e assim como em “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez, fadado a solidão.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Dezembro

Cada semana que passa, relembro
Cada dia me maltrata, te espero
Cada ano você passa, dezembro
Cada hora me desgraça, sincero
Cada carro que atravessa, te vejo
Cada rua que ando, desencanto
Cada pessoa que falo, desejo
Cada som que ouço, teu canto
Cada cama que deito, esqueço
Cada palavra que escrevo, vazia
Cada carta que leio, desprezo
Cada foto que vejo, nostalgia
Cada perfume que passo, esperança
Cada porta que fecho, rancor
Cada sonho que tenho, criança
Cada coisa que sinto, amor

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Balas de Festim

Aqui abro este diário de cartas marcadas
Este diário submerso a minhas decepções
Escrevo neste meus pensamentos tolos
Debruço as palavras sem ordem no papel
Abro este como fiz com minha infame vida
Com suas risadas ocas, seus sorrisos amarelos
E transformo toda inércia em inutilidade
E disparo contro o mundo minhas balas de festim
Aqui abro este diário opaco e sem graça
Que nem a mim pode realmente interessar
Despejo minhas dúvidas, meus eternos medos
Todas as noites frias em que não consegui dormir
Como folhas soltas feito dias levemente vagos
Como pedaços de um quebra cabeça sem fim
Faço deste meu humilhante e derradeiro testemuho
E o jogo fora, abrindo outro como quem começa uma nova vida

domingo, 7 de agosto de 2005

Deixo Estar

Por mais um dia quase consegui te falar
E por esse quase me dispus a pensar
Por mais uma vez vou tentar te ligar
Dizer algumas besteiras, outras coisas banais
Por mais uma hora vou te esperar passar
E vou me esconder, mais uma fuga vulgar
Por mais um mês falarei que vou mudar
Direi que não ligo, que já não sinto mais
Mas quando te ver na rua, em algum lugar
Não vai ter nenhum jeito, tudo vai voltar
E vou reviver cada momento, nova euforia
Ficarei no quase, a beira da alegria
E por mais um tempo vou conseguir te levar
Não me importo com o que pensam, deixo estar
Por mais uma música deixarei de lembrar
E assim vou seguindo, seguindo devagar

Obs: Achei esse texto um dia desses no meio de uns papeis guardados com a data de 19/09/2000, retrato fiel de outras epocas, outros tempos, uma realidade que não existe mais, que optei por colocar aqui para exorcizar as lembranças ruins, me resguardando somente as boas coisas...

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Solidão Doce Amiga


Solidão esconde tudo, prende a alma
Devora o mundo, o submundo
Solidão palavra triste, vive calada
Sofrendo junto, em seu conjunto
E por ser só, vive a andar
Esperando milagres, invocando imagens
E por ser vazia, vive a chorar
Visitando o passado, o futuro tão sonhado
Solidão grande amiga, sempre ao lado
Ajuda a chorar, partilha o sofrer
Solidão fiel confidente, escuta tudo
Aprende a amar, a acreditar
E por ser nostálgica, nunca sorri
Aceita seu destino, o seu caminho
E por ser minha, vive no coração
Pescando ilusões, escondendo tumores

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Como Os Demais

Eu preciso de doses homeopáticas de amor
De um lexotan que acalme meus ideais
Que me faça crer, que me permita crescer
Eu preciso de uma propaganda na Globo
De um espaço qualquer no sofá da Hebe
Que me faça parecer importante, soar relevante
Eu preciso de um bom chá de ervas mortas
De um quarto para mostrar minhas caras
Que me dê o verdadeiro instante, não obstante
Eu preciso de uma canção ruim no rádio
De um trio de dançarinas a me acompanhar
Que me ensine a aparecer, a dizer o que fazer
Assim como os demais que nada dizem
Que nunca pensam, que nunca gritam
E que insistem em ser apenas como os demais.

segunda-feira, 18 de julho de 2005

Bob´s Crônica


“Faço minhas as tuas palavras” disse Bob no entardecer em um barzinho para um amigo, sentado a olhar o horizonte que se propagava, “Não quero saber de mulher nunca mais nessa vida, escolho a solidão”. E assim ia levando a vida, do jeito que achava que suportava, ficava em casa, só saia quando percebia que realmente valia a pena, parou de freqüentar o Bar do Madureira e o Pina de Copacabana, seus habituais lugares onde passara boa parte de sua vida.
Seus amigos lhe instigavam a sair, “Vamos para uma festa Bob?, hoje vai ser bacana” e ele sempre inventava uma desculpa para a sua ausência. Insistiam com ele, “Cara, vamos nessa, lembra da Selminha? pois é, ela ta cada vez mais linda e continua a fim de ti...”, mas nada dele sair, ficava em casa lendo uns livros, vendo uns filmes antigos, fazendo o tempo passar de alguma forma que lhe tirasse o peso do mundo dos ombros.
Apesar de nunca ter confessado diretamente a ninguém, Bob mudara tanto pois a mulher que escolhera para ser o amor de sua vida, que imaginou ser sua companheira na velhice, não estava mais do seu lado. Depois de sucessivas brigas e discussões, de juras falsas de amor jogados no vento, de amargas noites de conversas, de inúmeros pulsos telefônicos gastos aliados a desculpas vãs, tudo acabara sem um motivo convincente para ambos. E apesar de saber que ainda existia algo de bom em relação aos dois, Bob preferiu enterrar o assunto de vez, optando em dar um tempo de ver as mesmas caras, sair para os mesmos lugares, beijar as mesmas bocas, apenas se contentava em escutar um disco antigo de uma banda de tempos atrás e principalmente uma canção “Metal Contra As Nuvens” em particular.
Todos sabiam do verdadeiro motivo, mas para eles Bob sempre dizia que a culpa era do trabalho, que já não saia tanto porque se achava meio velho para determinadas farras, que era isso e aquilo...e assim seguia tentando enganar inultimente a todos com seu teatro barato, mas principalmente enganando a si mesmo. Até que seus amigos pararam de lhe convidar para sair e foram se acostumando com as novas características de seu velho amigo.
Só que para sorte de Bob, Deus benévolo com ele foi e em como um filme romântico açucarado, de uma hora para outra conheceu Sara Lee. Namoraram um pequeno tempo e depois se casaram para o famigerado mas não menos atraente “para sempre”. Constituíram família e se apaixonaram de maneira tão forte e vibrante, que até mesmo desconfiavam às vezes dos seus sentimentos, do que passava em suas cabeças.
Hoje, passados longos e longos anos, Bob senta na varanda de sua casa, tomando uma cerveja gelada aos domingos e conta aos seus cinco filhos as belezas do amor, de como ele nunca sofrera por isso, de como nunca ficara mal por ninguém, que a mãe deles foi a única mulher de sua vida. Enquanto lá de dentro da sala, de um velho vinil meio arranhado, ecoam os versos de uma canção que todos param para cantar junto, dizendo assim:
“...E nossa história, não estará pelo avesso assim sem final feliz, teremos coisas bonitas pra contar e até lá vamos viver, temos muito ainda por fazer, não olho pra trás, apenas começamos, o mundo começa agora, apenas começamos...”

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Velhos Amigos


E eis que dois grandes amigos se encontram novamente depois de alguns anos. Já não são mais os mesmos com certeza, estão em torno dos 35 anos, devem estar uns treze anos mais velhos, uns dez quilos mais gordos, com um pouco menos de cabelo, uns 50% mais estressados e por aí vai.
Se encontram em um supermercado, na seção de bebidas (onde mais poderia ser?), os dois disfarçando com uma bebida light na mão, mas na verdade desejando profundamente aquele Chivas Reagal de R$ 125,00 da prateleira, quando se vêem.
-João , é você , não acredito?
-Rômulo?-Sou eu mesmo cara, o velho Rômulo da universidade, quanto tempo...
-E aí rapaz, como estás?
-Vou bem, seguindo a vida na boa e você?
-Estamos aí, na paz...
-Como anda sua família? A Mariza continua bonita como de costume?
-Na verdade me separei faz três anos e quanto a minha ex-esposa, sinceramente não sei como está, pois faz tempo que não há vejo. E a propósito o nome dela é Maria e não Mariza.
-Ah é, desculpe! Maria, Mariza ,começa tudo com M e termina com A, eu sempre me confundi com nomes mesmo. Mas e aí, ainda trabalha pro governo?
-Não, não, aquela crise do México me botou pra fora, me disseram que a culpa foi do El Nino, não entendi bem a relação entre as duas coisas , mas tudo bem.
-É, mas deves estar feliz , afinal de contas o teu velho candidato se tornou presidente.
-Que candidato que nada, votei no Serra.
-Mas como? Você fazia parte da UNE, era um dos mais politizados do centro acadêmico, defendia as idéias socialistas com unhas e dentes e só andava de camisa do Che Guevara.
-É meu amigo, mas os sonhos morrem e além do mais se o Serra fosse eleito, tinha um primo meu que trabalhou na campanha dele e podia conseguir meu emprego de volta, fiz isso por mim, entende?
-Não, não entendo. Olha posso te falar uma coisa? Eu nunca esperava isso de você cara, logo quem queira mudar o mundo...
-É, mas meus heróis foram morrendo de overdose, meus inimigos estavam no poder, a grana ia faltando pra botar em casa e tive que mudar de lado, fazer o quê?. Mas e você Rômulo, como estás? Continua um solteirão convicto, sempre dizia que nunca se apaixonaria por ninguém, que iria morrer só no Caribe, cheio de mulheres do lado...
-Mais ou menos, tô meio enrolado, tive um filho, o Paulinho, tu precisas ver o moleque , ele é muito inteligente. Aí morei junto um tempo com a Heloísa, lembra dela? Aquela que no segundo ano subiu bêbada na mesa do professor de Matemática Financeira e tirou a roupa...
-Ô se lembro, como iria esquecer, tu quase teve um treco na hora..
-Pois é, só que vivíamos brigando, e ela gostava muito de mim sabe como é? Me enchia muito o saco e resolvemos dar um tempo, mas acho que a gente vai acabar voltando.
-Isso foi agora, esses dias ?
-Não, fazem 2 anos , 7 meses e 21 dias.
-Iiih...Parece que você ainda não a esqueceu velho amigo...
-Que nada cara, nem sinto a falta dela. Só me lembro dela assim repentinamente, como quando vejo essa lata de palmito, pô cara ela gostava muito de palmito, tu não tem noção, ou quando pego bacon, que ela sempre batia na minha mão e fazia eu devolver porque fazia mal, mas nada demais...
-Ah! sei.....
-Ou então quando passo na frente da casa dela todo dia, mas tudo tá normal, nada demais, imagina se logo eu ia ficar pra baixo por causa de uma besteira dessas.
-Tá bom, vou acreditar... E o trabalho? Continuas como administrador daquela empresa ?
-Que nada cara, me demitiram. Disseram que foi a recessão, essas coisas. Mas até que foi bom, pois com a grana que peguei de lá, montei meu próprio negocio, uma loja de Pet Shop.
-Pet Shop? Mas você nunca gostou de bicho algum, odiava quando ia lá pra casa e o Maradona começava a querer brincar contigo, lembra do meu cachorro, o Maradona? Que pena que ele morreu naquele meu aniversario que deram Tequila pro coitado beber...
-Pois é..., por isso que a gente só dava cerveja, conhecíamos o Maradona, eu falei pra não convidar aqueles argentinos do terceiro ano.
-Sim, mas continua. E o teu negócio ?
-Pet Shop tá dando um bom dinheiro, tem muita dondoca aí se preocupando com seus cachorros e gatos, isso tá virando moda, tens uns lá que comem bem melhor do que eu. Tô com três lojas espalhadas pela cidade e além do mais nunca acreditei muito naquela ladainha de Taylor e Fayol, essas historias de organização e métodos que me ensinaram na universidade...
-É podes crer...
E enquanto seguiam pelo supermercado, continuando a fazer suas compras, entre cada nova conserva e comida instantânea colocada no carrinho, os dois pensavam em como seu grande amigo tinha mudado tanto, de como a vida passara tão rápido, sem perceber que eles também haviam mudado muito.
-Pois é meu amigo! Foi bom lhe ver de verdade. Vamos tomar um chope por aí, botar o papo em dia, se lembrar de quando a vida era boa...
-Vamos sim, combinado! Me dá o número do teu telefone, que eu te ligo.
-Toma, mas liga mesmo, nós precisamos fazer uma onda de novo.
-Deixa comigo, a gente marca com umas meninas e passa o final de semana pelo litoral curtindo.
-Beleza, um abraço.
-Outro.
E assim se despediram e nunca ligaram um para o outro, vez ou outra se encontravam pelas veias do mundo e sempre botavam a culpa no trabalho, que o telefone estava desligado, e outras desculpas mais.
Mas a verdade é que João já não era mais o mesmo de dez anos atrás e não queira desapontar o velho amigo com sua nova vida, com a perda dos ideais que tanto defendera na juventude, preferia que ficasse na cabeça de todos a imagem do João, o rebelde, o contestador. E Rômulo optou em deixar seu velho amigo também com a imagem dos tempos da universidade, do Don Juan Rômulo, que pegava todas as meninas e as deixava morta de amores por ele. Não queria que João soubesse que vivia atrás da Heloísa, que se humilhava por ela, que tinha se tornado um eterno apaixonado, e que já não era mais nem a sombra de antigamente.
E assim jogavam a vida pra frente, deixando o passado como uma boa lembrança de um tempo que não volta mais.

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Retratos da vida

Augusto sempre fora na sua vida um cara alegre, de bem com a vida, aquele indivíduo que animava todas as mesas de bar onde freqüentava. Namorava já fazia mais ou menos uns 6 anos com a belíssima Ana Paula e durante todo esse tempo os dois nunca haviam brigado, parecia que sua paixão era como um filme de hollywood, um eterno final feliz. Os seus amigos comentavam que os dois só não se casariam por um capricho do destino. E ele aconteceu.
Ana Paula que estava se formando em Direito na universidade, recebeu uma proposta irrecusável de passar 2 anos se especializando nos EUA, com posterior contratação profissional. Ana conversou com Augusto sobre o assunto e pela primeira vez tiveram uma briga feia. Ela decidiu ir embora apesar de não estar muito certa disso e ele ficou transtornado com o fim daquilo que julgara ser o romance ideal.
O mundo de Augusto começou a desabar. As palavras que mais lhe faziam sentido eram amargura e solidão. Certo dia ao chegar do trabalho, queimou todas as fotos que possuía de sua amada, com exceção de uma que mandou ampliar, colocar uma moldura e pendurou no escritório que mantinha em casa.
Desse dia em diante, passou ao chegar do trabalho, se servir de uma dose de uísque e sentar em frente ao quadro, ficando a admirar o mesmo por horas e horas. E por mais que seus amigos lhe instigassem a sair dessa fossa, que sua família se preocupasse com ele, de nada adiantava. Continuava sua rotina por alguns anos, já que de Ana Paula nunca mais ouvira noticias e ainda que alguém lhe quisesse contar algo, escutava tais informações com um descaso monumental.
Até que um certo dia, uma faxineira nova derrubou o quadro e a moldura se quebrou, ela assustada fez cair o detergente em cima da foto, desfigurando-a por completo. Augusto ficou inconsolável pela segunda vez na vida, depois de tanto tempo foi como se tivesse perdido Ana Paula novamente. Feito um louco desvairado correu atrás de notícias dela pelos quatro cantos da cidade, vasculhou agendas antigas, até descobrir que ela estava trabalhando em Hong Kong representando os interesses de uma grande multinacional.
Marcou uma viagem urgente e foi embora para a cidade. Lá chegando, marcou um encontro com sua eterna e amada Ana, que completamente surpresa com presença do grande amor de sua vida, aceitou de imediato. Foram a um café e ela emocionada com tal fato inusitado, abriu seu coração, disse que nunca o tinha esquecido, que só não o havia procurado antes pois achara que ele já a esquecera, enquanto ele assistia tudo sem expressar quaisquer sentimentos pungentes, a não ser um misto de nostalgia e impavidez.
Conversaram, beberam seus cafés e antes de se despedirem, ele pediu para tirar uma foto dela de lembrança. Quando foi embora, Ana ficou desolada ao ver seu grande amor partir e não entendeu o porquê dele ter ido ao outro lado do mundo para fazer somente aquilo, beber um café e tirar uma foto. Ela se sentiu uma completa idiota por ter lhe contado tudo o que sentira e por ainda pensar nele depois de tanto tempo.
Chegando novamente em casa, Augusto revelou a foto e mandou fazer um outro quadro bem mais bonito e suntuoso que o anterior para colocar novamente em seu escritório. E até hoje para completa confusão de todos que não entendem suas atitudes, ele continua sentando à frente desse quadro todos os dias, com sua dose de whisky na mão à admira-lo.
E por dentro de sua singular pessoa ocorre uma sensação de alivio e segurança, pois por mais que lhe quebrem esse quadro, há outros guardados no porão junto com o negativo, pois assim ele sabe que terá a certeza de que nunca mais será abandonado outra vez.

domingo, 19 de junho de 2005

A trilha sonora da vida

Na vida sempre temos aqueles discos que encaixam perfeitamente em determinadas situações do nosso dia a dia. Não são os melhores, nem os piores, às vezes nem são de uma banda ou artista que gostamos, mas se encaixam perfeitamente em alguns dias.Dentro dessa lista, destaco alguns meus. Só para variar, continuo dando opinião para o que não sou chamado. Mas vamos lá.
Toda vez que to triste, puto com a vida, baqueado sentimentalmente, ou algo do tipo, pode estar certo que quando chegar em casa vou botar pra rolar o “Automatic for the people” do R.E.M. Para curtir uma fossa não tem igual.
Por outro lado, quando to alegre para caramba, e to me arrumando para ir a festas, ou qualquer coisa que me agrade. É simples, o “Dookie” do Green Day, vai tocar. Ô disquinho pra cima, vou te dizer.
Se o negócio é fazer esforço físico, malhar e tal (vocês devem estar pensando, e desde quando esse cara malha?, mas nas três semanas que sucederam a compra da minha esteira há uns três anos, eu fazia sim. É certo que hoje a mesma está quase imprestável por falta de uso, mas isso não vem ao caso.) Vou, ops!, ia de The Clash, com o, “The Essencial”,muito bão.
Se simplesmente, chegando em casa, cansado do trabalho, precisas de uma música para relaxar e descansar, corro na cdteca e cadê, cadê, isso!! Acho “If you feeling sinister” do Belle and Sebastian. O dia que ver o Stuart Murdoch, juro que agradeço por me dar paz nesses momentos.
Quando estou viajando e na boa época que tinha walkman, era só colocar “The Greatest Hits – 1990/1999” do Black Crowes que a viagem era prazerosa e rápida. No dia que tiver um carro, tudo voltará ao normal (e quando eu aprender a dirigir, off course).
Se é para escutar no trabalho, há muitos, mais um dos meus preferidos é o “Bloco do Eu Sozinho” dos Los Hermanos. Caras e estimadas pessoas, sou fascinado por esse disco.
Quando consigo finalmente encontrar uma praia e pegar aquele pôr do sol, nada melhor que um reggae e se nessas horas pudesse colocar um disco, certamente seria algo do mestre Bob Marley, o “Legend” já caia bem, como caia.
E há discos para outras diversas situações, mas eis que paro por aqui, para não ser mais chato ainda do que sou. Você alguma vez já parou para pensar nisso?
Ta bom, eu sei que é inútil, perda de tempo, mas é de um prazer indescritível fazer essa listinha. Faça a sua. Os discos que ouvimos nos dizem muito a respeito da nossa personalidade.
Ah....E esse acumulado de devaneios e besteiras foi escrito ao som de Massive Attack do disco homônimo, que escuto sempre quando escrevo.E é isso.
Obs: A trilha sonora assim como a vida é totalmente mutavel, uma eterna camaleã.

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Carona

E se tudo fosse brincadeira? E se nossos heróis não estivessem mortos, se nossos amores não estivessem perdidos em alguma galáxia distante. Se tudo não passou de uma grande piada, o que restaria? Nossas conquistas e idéias absurdas nunca teriam ocorrido, aquele beijo nunca teria acontecido assim sem porquê e os nossos destinos talvez nem se cruzassem ao certo se tudo não passasse de uma brincadeira.
E se tivéssemos feito tudo diferente? Se não tivéssemos deixado a armadura jogada no armário, se o que dizemos foi tudo um grande erro, se não somos mais quem fomos, o que seriamos? Todos os nossos choros não teriam existido, nossos risos e abraços sem sentido não teriam vindo. E quem sabe dois estranhos a andar pelo mundo se tudo que fizemos fosse diferente.
E pela estrada caminharíamos feitos duas extremidades, perguntando a todo momento sobre o que não sabemos, aterrorizados por duvidas que nunca nos deixariam, indignados por situações irremediáveis dessa vida.
E de nada adiantaria estar vivo, estar vivendo se nada disso pudéssemos ter feito, ter realizado. Tristes são essas pessoas que não tem coragem de nada e esperam a vida passar sem pegar carona nela como nós.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Retrato Abstrato

Hoje nada mais sou que um retrato abstrato sem inspiração
Que depois de tanto tempo ainda reflete a sua imagem
Ainda insiste em caminhos que já deixaram de ser meus
E continuo tolamente acreditando em devaneios mal feitos

Sigo vestido e alinhado com roupas de um brechot qualquer
Desarmado compro briga com casos e historias sem fim
Assisto ao passar de tudo, imóvel, um ser inanimado de graça
E continuo sinceramente esperando que algo me caiba

Em uma esquina qualquer tomo um trago, invento um papo
Destruo castelos que não merecem ter a minha construção
Com o teu rosto sendo jogado pelos outdoors da cidade
E continuo incrivelmente apostando na sua indecisa arte

Em frente ao papel despejo palavras sem qualquer nexo
Talvez ninguém entenda e quem compreenda não queira mais
Apostando em uma corrida de vencedores previamente marcados
E continuo absurdamente vivendo como um idiota e sua causa

segunda-feira, 28 de março de 2005

E ainda dizem que a bebida...

Desde que João começou a tomar sua cervejinha lá pelos seus 16, 17 anos , todo final de semana era aguardado com grande expectativa, pois era quando podia curtir sua cerveja a vontade, sem contar é claro toda Long Neck que tomava diariamente à noite.
Depois de alguns anos João era um expert no assunto, distinguia sem muita dificuldade ao beber cada marca de cerveja, dizendo até para o espanto de todos o lugar em que ela tinha sido engarrafada.
Só que já enjoado pela mesmice de saber tudo, decidiu que ia dedicar seu tempo livre a conhecer outras bebidas e assim foi seguindo a sua vida, um final de semana bebia Campari, outro Vinho, Vodka e o que mais tivesse pela frente. O ruim era que pelo trabalho "cientifico" que fazia, precisava experimentar as piores bebidas do universo, inclusive as falsificadas e as vodkas Balalaikas da vida.
Acontece que chegou um tempo em que João já havia provado todas as bebidas possíveis e mais uma vez sentiu aquele vazio dentro dele. Decidiu então que ia partir para as misturas. É...ia passar a inventar drinques, "...Se um americano inventou o Blood Mary , eu também posso inventar algo...", pensava ele.

Só que antes de começar sua nova pesquisa, foi visitar um médico por insistência da sua família e amigos, pensavam que ele podia estar com alguma doença grave ,entretanto para surpresa de todos, ele estava perfeito, em ótimo estado, "...Graças a minha santa Qualada ( argh!! )..." dizia ele. E assim pode seguir em frente.
Na sua peregrinação inventou tantos drinques, mas tantos drinques que perdera a conta. Se tornou famoso no mundo inteiro, foi capa da Veja, Isto é e imagine você, até da Time. Deu entrevistas no Jô Soares, no Larry King, no David Letterman, em tudo que pudesse aparecer , apareceu. Tinha passe livre com diversos presidentes do mundo.
Em Cuba às vezes ia de jatinho, só para preparar um especial para Fidel, ganhou o titulo de Sir do Príncipe Charles pelas maravilhas que fazia com o seu Scotch, do Presidente Lula ganhou a medalha de honra ao mérito, por inventar uma nova caipirinha que ajudou o Brasil a quadruplicar as exportações e ter o maior Superávit da história, ajudando assim na geração de empregos e tudo mais.
Assim João ficou rico, famoso, reconhecido. Costumava sempre dizer nas suas entrevistas, "..E depois dizem que beber não leva a nada...", com um certo ar de ironia que só os bem sucedidos podem ter.
Só que depois de um tempo, apesar de tudo que a vida lhe proporcionara, João passou a sentir aquele mesmo vazio de antes e já não sabia mais o que fazer pra curar tal sensação. E então resolveu que ia parar de beber, marcou um coletiva com a imprensa mundial e decidiu que tinha chegado a hora de parar e tudo mais, para o desalento de milhões de pessoas no mundo todo.
Hoje, mora num sítio no interior do Rio de Janeiro, fazendo experiências com sucos, elaborando novos sabores e desde aquele dia nunca mais botou uma só gota de álcool na boca. Vez ou outra, aparece alguém da empresa para fazer uma matéria e oferece uma cervejinha e tal, mas ele resiste bravamente, dz que "...não tem mais graça...".
E continua a viver sua vida, elaborando sucos junto com o seu vizinho, um tal de Zeca Pagodinho...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

O Que Fazer, Irmão?

E diante de tanta coisa jogada no chão
O que fazer irmão?
Acreditando na eterna dança dos desolados
O que dizer ao teu lado?
Mesmo suportando os calos de uma vida esguia
Como te tratar de dia?
Ainda que não estejas mais vestida de palhaço
Aonde buscarás teu espaço?
E quando tudo for cópia de uma verdade falsa
Que horas dançaras a valsa?
Encarando tua dor com fugaz e tênue percepção
O que dizer ao coração?
Por mais que nada tenha sentido ou seja banal
Como conjugar teu mal?
E quando todo verbo pronunciado gritar solidão
O que fazer irmão?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Caminhar

Hoje parece ser um dia bom, bem especial
O céu está mais cinza, completamente nublado
As pessoas estão mais nervosas, sempre tensas
O presidente falou na TV que vai melhorar
Realmente hoje parece que vai ser muito bom
Todas as coisas que faço estão mudando
Todas as mudanças que quero estão faltando
O que era igual, passa a ser meramente vulgar
Ontem mais um assalto, mais alguns reais perdidos
Hoje mais um não, mais um sonho descabido
Rejeitos, lixos, sobras, isso me atrai sempre mais
Espero que tudo possa ser mais normal
Sua loucura, tua bravura, isso já me desfaz
Seus pesadelos, seus imensos medos não me satisfazem
Mas com certeza amanhã será um dia bom
Quem sabe novas esperanças a serem prostituí­das
Com todos esses exames me perturbando, me impugnando
O raio x da minha alma só acusa mera insatisfação
Champanhes, vinhos, vodkas, uísques, tudo mais
Vamos comemorar o dia que não mais será por mal
Depois de amanhã tudo se resolverá em um passe de mágica
E eternamente viveremos adiando nossas ilusões perdidas
Convalescendo do mal da mesmice, da descabida rotina
Percorrendo o caminho da futilidade e da ignorância

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

De Olhos Fechados

A cada dia me reinvento
Morrer, nascer, morrer de novo
Para cada hora ser quem sou
Para cada minuto não passar em vão
Durante segundos sofro sim
Mas escolho melhores paisagens
Outros lugares, simples pesares
E parto sem caminho certo
Vivo me alimentando de idéias
Essa fome não posso suportar
Minha carne é fraca, sei disso
Mas meu espí­rito é ainda mais frágil
A cada dia começo do zero
Limpo minha mente, meu ser
Para estar bem com todos
Para crescer, aprender, viver
Tento não lamentar frases perdidas
Esqueço tudo que não veio
Luto com forças estranhas
E chego sempre na minha memória
Sendo apenas outro cara
Que busca incessantemente algo
Mas que ás vezes precisa parar
Ás vezes precisa ser como os demais
A cada dia crio um novo sorriso
Espalho-me em diversos pontos
Cito poetas, escrevo estórias
Simples assim, para ninguém em especial
Encontro novas almas, almas perdidas
Sento em bares, falo bobagens
Sinto que nada me agride mais
Basta querer, querer anormalmente
Vou vivendo na margem, na ilha
Não sou nada, nem quero ser
Como disse, sou apenas outro cara
Que não espera a hora certa de viver

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Para Quando Estiveres Só

Se um dia estiveres se sentindo só, pense em quantas vezes esteve com alguém
Se acordares com um choro estrangulando a garganta, lembra das risadas que já destes
Se parecer que tudo vai por água abaixo, lembre das coisas boas da tua vida
Se parecer que não tem mais amigos, te escora naqueles que te conhecem de verdade
Se um dia de repente o mundo virar do avesso, pense em quando tudo deu certo
Se o céu estiver cinza e nublado, lembre de como é lindo ver o sol se por
Se parecer que foi tudo errado, tudo em vão, lembre que o importante é sempre tentar
Se a vida estiver difícil, ruim de encarar, lembre que nada é impossível se quisermos
Se um dia o mundo bater com a cara na tua porta, lembra de quantas vezes ele já te disse sim
Se a tua noite for amarga, lembre que sempre nasce um novo dia com novas esperanças
Se estiveres desamparado, escondido em lugares escuros, lembra o quanto é bom viver
Se parecer que tuas feridas nunca vã cicatrizar, jogue suas boas lembranças em cima delas
E se mesmo assim ainda estiveres se sentindo só
Leia um livro, escute um disco, pense bem, se revigore mais
Mas nunca pense que a vida não foi feita pra você
Somos nós que fazemos nosso caminho, nossa estrada a seguir
E afinal se viver fosse fácil assim, que graça teria em viver?