quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

A vida é uma piada

“A vida é uma piada, uma grande piada maravilhosa como aquela canção...”, pensa em voz alta Benjamin Trotter no livro “Bem vindo ao Clube” do inglês Jonathan Coe. Em um momento de reflexão, o personagem dá uma exorcizada em seus demônios pessoais, frustrações, preocupações e tenta mudar o rumo do seu destino, nesse belo livro que vale muito a pena ser lido.
Na maioria das vezes levamos a vida à sério demais, essa vida tão frágil que temos, tratamos dela como se fosse um contrato de locação de imóvel com regras e mais regras, sem surpresas, utilizando apenas o caminho previamente combinado para seguir em frente. Não que a vida não mereça ser levada a sério, mas simplesmente abusamos disso. Cada pequeno problema do dia a dia, que poderia muito bem ser apagado, ser suprimido, ser desconsiderado gera uma enorme confusão, alcança proporções inimagináveis, transformamos tudo como questão primordial.
Acordamos, levantamos e ao caminhar para o banheiro damos uma topada em algo, é quando a cara fecha, gritam-se impropérios contra a força divina do acaso, toma o café da manhã emburrado, esquece-se de dar bom dia e chega no trabalho já desgastado. Se alguém nos joga uma piadinha, ou fala algo que não gostamos, ao invés de ignorar e seguir em frente deixando o imbecil que falou se achando o máximo (quando na verdade ele é um idiota e você sabe disso), você volta, cria um atrito e depois ainda bate no peito ao dizer em uma mesa de bar que é “daqueles que não levam desaforo para casa”.
Simplesmente me pergunto, pra quê? Porque não deixar a vida seguir seu rumo normal, o que tiver que ser será, seja hoje ou daqui a vinte anos, gastar nossa energia com tanta besteira enquanto há tanto para se viver, para se dizer, para se cuidar. É se preocupando com essas picuinhas que esquecemos de dizer um obrigado a quem merece, um bom dia para o gari da rua, abraçar um amigo e dizer o quanto ele é importante, chegar com tua mãe e escutá-la com carinho, dar um beijo no seu filho brincando de alguma coisa, ou chamar a pessoa de quem gosta e dizer um “eu te amo” simples e funcional e que não tira pedaço nenhum.
O grande amor da sua vida ainda não chegou? Paciência, um dia virá. O seu trabalho anda uma porcaria? Mude, arrume outro. A vida anda ruim? Invente novas coisas, novos caminhos. O que não dá é para deixar qualquer coisa ser a função básica da vida, tem muita coisa que vale a pena ser buscada e todas elas não chegam a ser o “fim”, mas funcionam como “meios” de conseguir aquilo que mais se almeja, que é viver, viver feliz, viver em paz.
Achando graça e sorrindo como se fosse uma grande piada...

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