sexta-feira, 30 de março de 2007

Salve o Escroto

Entre um copo de cerveja e outro, dentro de um ônibus no sufoco, escutando um disco escroto, jogando pragas para a vida sem gosto, dá para fazer muita coisa. Uma delas é tratar pactos que nunca serão cumpridos, metas que não vão sair do papel, definições para uma mudança de personalidade que por mais que te deixe puto, você não vai conseguir fazer.
Nesses termos bati um papo com a força superior que rege o universo, dentro do Departamento de Reencarnação, recém reformulado para atender recursos e impugnações sobre vidas futuras. Dei entrada no meu processo. Pedi uma revisão de atos, explicando que apesar de gostar bastante das coisas que faço, queria experimentar coisas novas que minha atual personalidade e meu propenso caráter não me deixam fazer.
Quero ser escroto. Muito escroto. Mas nenhum traço de bondade em mim. O tipo da pessoa falsa, sem palavra, que vive das desgraças das outras. O tipo de pessoa que não reluta em passar por cima de todo mundo, que vive tirando vantagem, contando bafo, mentindo e causando intriga. O tipo de cara que não é fiel a nada. Nem aos seus amores e muito menos ao seu trabalho e ideais.
O tipo de cara canalha, não o bom canalha, o charmoso canalha, mas o pior tipo, aquele que não se prende a nada, que cria situações que não pode sustentar, que discute quando tem que calar, que mente quando tem que rezar, que amargura ao invés de amar. O cara que não escuta ninguém, que é comentado por tudo e por todos como um grande filho da puta, que ninguém confia ou acredita.
Porque é desse tipo de pessoa que o mundo é feito e andar na contramão às vezes cansa, às vezes te arremessa contra as coisas mais banais. Nadar contra a maré é complicado demais, mesmo para quem sabe nadar. Não há voltas. Na há retornos. Não há muita coisa para ser sincero. O escroto é o dono do mundo. E na próxima encarnação solicitei para ser também.
O escroto esquece de tudo, mas não esquece de si mesmo, quanto mais coisas ruins faz, mas aumenta sua moral na sociedade. O escroto não teme ninguém, aliás, o escroto não conhece ninguém. O escroto não ama, escraviza. O escroto não é companheiro, é traiçoeiro. O escroto não vê o mundo, ele é o mundo. E assim o escroto é admirado mesmo por aqueles que não gostam dele. E transformando tudo ao seu redor contamina com seu vírus aqueles que ainda tentam não ser assim.
Dentro do requerimento enviado, tem uma segunda opção. Caso me seja negado a grande alegria de ser um tremendo filho da puta na próxima vida, peço pelo menos para não renascer aqui. Reencarno como uma pedra na lua, um grão de areia em marte ou qualquer outra coisa. Topo qualquer parada. Porque se não for para ser um escroto, começo a achar melhor nem estar aqui.
Se quiserem mando uma cópia para darem entrada também.
P.S: Trilha do Post: "Agora eu sou o vilão" - Bazar Pamplona

segunda-feira, 12 de março de 2007

Polo Norte

E de nada se faria tudo, já diria sozinho calado o mudo
Quando não acontecem nossos sonhos, alegres e risonhos
Escancaramos portas entre os dedos, partilhamos nossos medos
E de repente tudo não faz mais sentido, tudo se vê partido
É quando deixa de se falar, a preocupação não está mais lá
O orgulho adentra teu coração, explode os muros da razão
E pouco interessa o que se tinha, a solidão está sozinha
Os dardos são arremesados no chão, o que era vida vira não
E as palavras já ecoam para ninguem, uma triste e quente Belém
Nada suporta nossa falta de sorte, onde és polo sul, sou norte
Viramos opostos num mar vazio, o amor se torna um ódio arredio
E acabamos menos belos, preferindo momentos vãos e infestos
E de repente o gelo é quebrado, por um descuido desacerelado
Devagar tudo volta as velhas vitrines, as rotinas chegam sublimes
Tudo caminha na maior alegria, arremedos práticos de nostalgia
E tudo termina como começou, um falso amor que nunca acabou