segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

E Algumas Aves No Céu

E quisera ser livre, mesmo não sabendo ao certo o que isso queria dizer
Quisera estar sempre pronto para tudo, estar disposto a tudo
Ir de um lugar para outro sem dar satisfções, sem responder indagações
Como um pássaro que sobrevoa as planí­cies e litorais
Quisera migrar somente quando tivesse vontade ou quando o frio lhe batesse
Sem preocupações, destinos certos, esconderijos patéticos
Estar preso o assustava absurdamente, tanto quanto seu próprio medo
Não queria repetir os insucessos de sua recente vida ordinária e casual
Então partiu a esmo, só com alguns trocados no bolso e umas aves no céu...

domingo, 30 de janeiro de 2005

Pobres Sonhos

Ela para e fica a olhar a cidade
Em usa varanda, a sua ciranda
Luzes acesas, algo novo que acalme
Seus pobres sonhos, seus dias tristonhos
Ela senta e começa a se desenhar
Cria uma imagem, uma outra miragem
Becos escuros, novos esconderijos
Sua alma seca, seu grito sucumbido
Ela chora, parece querer avisar
"Eu existo", "Eu quero mudar"
Salas cheias, novos cubí­culos a habitar
Seu trabalho sem graça, sua vida exata
Ela corre, busca um novo lugar
Outros amigos, casos antigos
Campos verdes, novas flores a cultivar
Sua grande esperança, sua única dança
Ela acorda, volta ao mesmo lar
Sua velha vida, suas tardes vazias
Vai dormir acreditando no que virá
O futuro ainda é uma regra a se mudar

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Meu Desejo Particular



Tú és palavra certa na minha boca a balbuciar
Tú és princesa triste a quem preciso salvar
Tú és estrela solitária que o mundo faz brilhar
Tú és o que não discuto, não preciso comentar
Tú és a mais perfeita entre todos os mortais
Tú és por quem não durmo, meus batimentos vitais
Tú és divina flor que brota em jardins reais
Tú és a grande obra, de belezas estruturais
Tú és minha tela viva, meu Van Gogh principal
Tú és minha relí­quia, preciosidade de além mar
Tú és minha doce bebida, meu ví­cio sem igual
Tú és a minha seleção, minha máquina de ganhar
Tú és o que não tenho cores para pintar
Tú és o que me move na vida a lutar
E de todas que por um dia quis me apaixonar
Tú és minha quimera, meu desejo particular

quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

Dias Rasteiros

Dias rasteiros correndo no tempo sem tempo
Mentiras fúteis querendo enganar mentiras
Diferenças sutis que já não percebo seu erro
Vida mambembe mudando de palco a cada dia
Faço me palavras inúteis
Transformo idéias em lixo
Viro um espaço sem sentido
Mergulho no teu abrigo vazio
Tardes queimando os sentidos sem sentido
Ecos de quem fomos e para onde vamos
Comento tuas virtudes nem tão belas
Esforço um sorriso amarelo sem nexo
Faço me idéias em lixo
Transformo palavras inúteis
Viro o teu o abrigo vazio
Mergulho em um espaço sem sentido
Noites que acalmam o que já não se mexia
Esquinas que terminam em novas esquinas
Teu olhar já não me acanha e me espanta
Sinto cada dia você mais perto no deserto
Faço me palavras em lixo
Transformo idéias inúteis
Viro um abrigo sem sentido
Mergulho em um espaço vazio

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Triste Palhaço

E ele era assim.
Um palhaço fracassado, que já não via mais graça na profissão, que já não tinha palcos para atuar, nem crianças para divertir.
Ele definitivamente virara um palhaço triste.
Mas nem sempre fora assim.
Ainda se lembrava dos seus tempos de glória, onde divertia milhões de pessoas, arrancava sorrisos onde menos se esperava.
E era para isso que havia dedicado a sua vida.
Considerava-se acima de tudo um fazedor de sorrisos.
Um fazedor de sorrisos.
Que não tinha mais força, que não tinha mais vida.
Sua chama, sua luz se apagara em algum momento perdido, em alguma desilusão, em alguma mesa de bar entre uma dose e outra.
E agora andava por aí­ representando o seu próprio papel, sua própria vida, vivendo seus fracassos reais, suas frustrações diárias.
E dessa forma ia vivendo.
Entre uma moeda e outra, entre uma vida e outra.
Amassado em alguma esquina.
Contando piadas para o alguém.
Pintando seu rosto para ninguém.

domingo, 23 de janeiro de 2005

Só Um Instante Maestro!

Só um instante, maestro!
Deixe-me subir
E mostrar tudo que tenho
Toda vida que sustento
Permita que eu fale
Que conte estórias mil
Que diga quem são meus amores
Que explique meus temores
Uma nota acima por favor!
Falsidade comigo não combina
Deixo meu campo limpo
Jogo sem armas, sem palavras
Deixe-me gritar mais alto
Pra que de mim se afastem
Todos os falsos e escravos
De sua própria ignorância
Mude a canção um momento!
Mas deixe no ar
Todo o sentimento
Toda a verdade
Com alegria no coração
Deixe-me dizer a que vim
E espalhe pelo mundo
Meu amor, minha paixão

sábado, 22 de janeiro de 2005

Estrada do Surreal

Na minha estrada surreal carrego mil ilusões
Desejo ir embora, sem rumo, sem nada, só ir
Nela encontraria algumas pessoas a caminhar
Encontraria Kerouac, Ginsberg, beatniks mal tratados
Viajariamos quilômetros divagando sobre nada
Vomitando palavras com gosto de whisky falsificado
Dormindo em moteis sujos com mulheres seminuas
Correndo nus pelas ruas de uma cidade qualquer
Encontraria Morrison e Janis tomando um conhaque
Ao lado de algumas substâncias não muito legais
Com um blues dos anos 30 sendo entoado feito um mantra
Carregado de dor e solidão, de prazos e atrasos
E no meio do caminho lá estaria ela sozinha
A doce Alice, livre de todas as suas maldades
Seu mundo de maravilhas deixara para trás
E andariamos a mil devotados um para o outro
Encontraria Roger Rabbit trapaceando e enganando todos
Jogando pôquer com os três porquinhos e o lobo mau
Dentro de um casebre cor de vinho com janelas verdes
Onde Tim Burton estaria lendo um livro de Heminghway
Quando a noite em uma festa suburbana, de classe média
Lady Di passearia ao lado de plebeus como zumbis
Soariam hinos, sinos, canções de guerras vitoriosas
Enquanto Oscar Wilde olharia tudo com sublime desdem
Nessa minha estrada surreal não teria obrigações
Seria mais um palhaço sem graça, um ator fracassado
Inventando poemas em um caderno meio amassado
Perdendo e fazendo amores em qualquer esquina
Por essa estrada seria mais livre, mais desconexo
Não exigiria tanto de mim e de quem anda comigo
Pensaria somente no hoje, ao invés dos amanhãs
E seria quem sabe um pouco mais absurdo que feliz

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Anjo Acorrentado

Como um anjo caido sobrevoando pantanos
Acorrentado a duvidas e outras indagações
Sem a beleza de outros carnavais celestiais
Destituido de toda sua forma e gratidão
Caido, sem rumo, preso a textos antigos
Sem asas que possam novamente me erguer
Passo tempos sem prazer, sem qualquer ritmo
Imito vontades que já não sei dizer porquê
Como um anjo caido me entrego a outras pessoas
Só me entrego, sem alma, sem outra paixão
Tento ajudar todos que consigo atingir
Percebo que minha vida já não vale então
E sigo quebrando o que me resta de asas
Planando baixo sobre toda essa hipocrisia
Me esquivando de todas as tuas mentiras
Fazendo um novo ninho, um outro lar para viver

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Algo Meio Estupido

Escrevo essa canção apenas por escrever
Não me atento a melodia, compassos
Escrevo simplesmente para tocar no rádio
E te emocionar em algum lugar perdido
Escrevo esta canção para te lembrar
Sem me preoucupar ao certo com nada
Assim a faço para ser cantada pelos bares
Ser entoada por estranhos em todos os cantos
E nela coloco um refrão meio canalha
Algo assim meio estupido e chinfrim
Dizendo palavras sem sentido algum
Afirmando que nada chegou ao fim
Escrevo esta canção mal traçada e porca
Contando histórias secretas, indiscretas
Preocupado em saber se vai acabar bem
Esperando um novo final, um novo alguem
Escrevo esta canção simplesmente para ti
Não me importo com o que os outros pensem
Escrevo porque preciso de uma canção assim
Para ficar eterno como o nosso caso enfim
E nela coloco um refrão meio canalha
Algo assim meio estupido e chinfrim
Dizendo palavras sem sentido algum
Afirmando que nada chegou ao fim

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Filme Cruel


Posso parar de caminhar agora, neste momento
Minha alma se encontra perdida, largada no vento
Todas as histórias que criei eram mentiras somente
Todos os versos que te mandei copiei de alguem
Mesmo assim espero que entendas meu mal
Espere o carnaval acabar e sucinte meus medos
Toque uma sirene de alerta, bata o sino da igreja
Esqueça com certeza tudo que te falei nas manhãs
Podia voar feito um passaro nas minhas ilusões
Criar um mundo novo a cada dia, a cada hora
Todas as canções ja eram poucas para mim
Os meus preceitos intitulavam o inicio do fim
E não devia ter te colocado nesse filme cruel
Escolha um novo papel para desempenhar na vida
Cruze os dedos, monte um esquema, faça uma figa
E esqueça tudo que não pode mais te ser dito.

sábado, 15 de janeiro de 2005

Meu Acaso

Durante este caso ao meu acaso
Vi que nada pode me destrair, me omitir
Posso ser um malandro, um farsante
Posso ser um simples dono de botequim
E depois destes gestos tão indigestos
Percebo detalhes perfeitamente estranhos
Olho minha existência e não vale tanto
Meus documentos não retratam meu canto
Passo a correr feito um louco medroso
Enquanto novos edificios se levantam imponentes
E eu não percebia que meu lar não tinha cara
Que o que acreditava completamente se mudara
E os carros continuavam indo e vindo sem parar
Sem uma explicação, um doce pedido de perdão
E novamente corria feito um louco desvairado
Tristezas, angústias e fracassos comendo no meu prato
Nem os cinemas existiam mais, viraram igrejas
Nem os bares exalavam cheiros, ficaram modernos
E tudo mais se dissipava em minha confusa mente
Parecia lobotomia, minha memória já me traia
E não conseguia mas nem lembrar de ti meu bem
Das estorias idiotas que passamos e vivemos
Simplesmente agora era tarde e não me restava nada
Só ficou uma rede estirada pra repousar meu corpo e dormir

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Eu sou do tempo...

Tempos modernos esses...Quem diria que seria tão fácil as coisas serem como são hoje em dia. Temos blogger, fotolog, orkut, messenger, informação de tudo quanto é lado e nem nos damos ao luxo de nos espantarmos com isso. Daqui a um tempo teremos códigos de barra impressos, como diria o Luí­s Fernando Verí­ssimo. E entramos nisso tudo de cabeça, expondo um pouco de nós e da nossa vida ao mundo. Nisso me incluo, eu faço parte disso também.
Mas sou do tempo de jogar bola na rua, de decorar os números de telefone da casa dos amigos, de varar madrugadas no telefone com namoradas, de desenhos animados realmente animados, do videocassete, do vinil...ah! que saudade do vinil. Sou do tempo que se tinham heróis, Cazuza, Renato Russo, Kurt Cobain, entre outros.
Não é sempre que essa nostalgia me bate, mas quando bate, me deixa assim meio submerso a lembranças. Sou do tempo em que se acreditava no amor, essa que é a verdade, que se pensava que o amor da sua vida estava em qualquer esquina a lhe esperar. Que pena que a vida faz isso com a gente, pois quando percebemos que nada disso existe, viramos seres tão práticos que tratamos até um simples beijo em uma rotina burocrática e cheio de limites.
Sexo livre é o escambau. O nosso sexo livre é o mais preso do mundo. Enchemos ele de não, de proibição. É proibido se apaixonar, não podemos ligar no outro dia, nada de ser bonzinho, é proibido gostar de alguém. Façamos sexo livre sim, mas com todas esses limites a nos cercar. Que paradoxo, não?
E nessas horas que a nostalgia bate, me dá saudade daquele tempo que pegar na mão era uma senhora conquista, que um beijo devia ser plenamente conquistado, que se passavam horas e horas batendo papo sem porquê.
E toda vez que acordo, volto para a realidade e me adequo como bom camaleão que sou, mas eu sou mesmo é do tempo que...