segunda-feira, 16 de abril de 2007

Uma Sexta-Feira Qualquer

Sexta-feira é o dia mais propicio da semana para sair de casa, tomar uma cervejinha, bater um papo com os amigos e lá pelas tantas dar uma esticada até uma festa qualquer. Marcos Roberto um belo dia resolveu cumprir todas essas etapas. Fazia um bom tempo que não saia de casa e naquele dia como era seu aniversário resolveu chamar os velhos amigos de guerra para relembrar aquilo que chamava saudosamente de "bons tempos". Os amigos se assustaram de inicio com o convite, mas como são muito difíceis, aceitaram quase que de imediato.
Inventaram desculpas para a esposa, no trabalho mataram algum parente distante pela décima vez, brigaram por motivos estúpidos com as namoradas, mas todos saíram, afinal de contas não podiam perder essa chance. Nunca mais tinham visto o Marcos Roberto e além de tudo ele iria pagar a conta, coisa rara de acontecer, devido digamos assim a seus termos "econômicos". Todos estavam curiosos para saber o motivo dessa gandaia, saber o que tinha acontecido de grave para que tal situação estivesse ocorrendo.
Chegando no barzinho, os amigos em torno de oito mais ou menos, se abraçaram e começaram a conversar, estavam todos lá, entre eles o Cardoso, que era o piadista da turma, Zezinho, o mulherengo, Clóvis, o mentiroso, Henrique, sempre idealista, Pablo, o bêbado sempre chato, Tião, o metido a brigão e claro que o Almeida também se fazia presente, típico gordinho enjoado que é sempre avacalhado e que existe em qualquer turma.
Começaram a beber, passaram por todos os caminhos da lei dos 20 chopes, mas uma pergunta não parava de rondar, sussurrada aos quatro cantos da mesa: "O que será que aconteceu com o Marcos Roberto?". Várias enquetes rolavam paralelamente na mesa, mas ninguém tinha coragem de perguntar diretamente. Coisas do tipo:
- "Será que a Carlinha pediu o divórcio?", conspirou o Zezinho, já meio interessado;
- "Pois eu digo que o Marcos foi demitido, me contaram", falou o Clóvis;
- "Eu acho que ele tem é pagar mais uma...", soluçou o Pablo;
- "Pois eu acho é que ele tomou coragem e resolveu finalmente assumir seu lado gay...", falou o Cardoso para a risada de todos na mesa.
Como ninguém perguntou nada, o Marcos Roberto (nome de cantor brega, não?) convidou a galera para ir a uma festa qualquer. Chegando lá aconteceu o normal, rolaram algumas cantadas fajutas para as meninas que não deram em nada, alguns vomitaram, rolou uma porrada devidamente provocada pelo Tião, subiram no palco para cantar, alguns namoraram e por aí vai.
Às 06:00hs da matina, já amanhecendo e comendo uma tapioquinha com café para não perder o antigo hábito e ajudar a curar o porre, onde já rolavam papos do tipo: "Ei cara, tu sabes que te considero para porra, tu é meu amigo mesmo...", foi quando Marcos Roberto pediu atenção pois queria falar. Todos se excitaram, recobraram o juízo, o Pablo coitado se levantou do chão onde estava deitado, o Almeida parou de comer sua sétima tapioquinha no mesmo momento, pois finalmente eles iriam saber o motivo que tinha levado a toda aquela farra inusitada.
"Olha galera, o motivo que me levou a comemorar meu aniversário este ano...", começou o discurso, "Foi que eu vou embora semana que vem, fui promovido e me mandarei para a Inglaterra com a Carlinha e com o bebê que ela tá esperando, é, vou ser pai também e essa deve ser a última vez que verei vocês em um bom tempo, então queria me despedir em grande estilo...". De repente, rolou um "aaaaaahhhhhh...." entre os amigos, foi uma decepção geral. Todos esperavam algo bombástico, revelador e acontece isso, é exatamente igual quando o seu time em uma decisão de campeonato precisa de um gol desesperadamente e já são 48 minutos do segundo tempo, quando o camisa 10 vem driblando, driblando, driblando, tira o goleiro, fica sozinho e chuta para fora. A decepção fora a mesma.
Depois, todos se abaraçaram, o Pablo, o Almeida e até mesmo o grosso do Tião choraram, o Clóvis começou com as suas dizendo que já tinha ido a Inglaterra muitas vezes e que ficava ali pertinho da China, entre outras. Confirmaram sua amizade mais um bom número de vezes e se despediram com um certo ar de tristeza no rosto, não exatamente pela partida do seu grande amigo, pois é claro que ele ia fazer falta, que estavam alegres pela promoção e pelo bebê, mas principalmente por se armarem tanto para receber uma notícia daquelas, um furo jornalístico para ninguém botar defeito e não acontecer "nada".
Estavam na verdade putos com o Marcos Roberto por isso, pois afinal de contas era sexta-feira e apesar de terem se divertido muito e gastado quase nada, não era aquela a notícia que queriam naquela noite. Ele podia ter feito um churrasco no sábado de manhã ou deixado para segunda, sabe se lá. Agora, vá entender...

Nenhum comentário: