domingo, 29 de janeiro de 2006

A Carta

Essa é a carta de amor que nunca te escrevi.
A carta que nunca te mandei.
Se fosse escrever essa carta algum dia, talvez começasse de qualquer jeito.
Talvez contasse uma história antes, fizesse analogismos, coisas assim.
Só é certo que usaria diversas metáforas pra esconder meu tosco amor.
Nesta carta não teria declarações de amor descabidas, sentimentais.
Não diria nunca "não vivo sem você", "sem você eu morro".
Sabemos que vivemos muito bem sem estarmos lado a lado.
Diria até que conseguimos levar melhor a vida sozinhos.
Mas essa carta não teria porquê em dizer isso, afinal seria uma carta de amor.
Nela colocaria apenas que sinto falta, bastante falta.
Falta dos momentos bons, mas também dos momentos ruins.
Falta dos teus defeitos, tuas frases feitas, teu jeito perfeito.
Falta das tuas besteiras, e até mesmo das tuas dúvidas.
Falta simplesmente de estar do teu lado.
Diria acho também, que sinto falta das tuas risadas, raras porém maravilhosas.
E falta de tudo que achava que nunca iria ter falta.
Complicado isso tudo na verdade.
Como dizer tudo agora, coisas que nunca disse.
E como esperar que tu entendas, já que nunca me entendeste.
Mas não vamos brigar, essa carta não seria pra isso.
Seria pra dizer que as vezes sou idiota, confesso, mas não percebo.
Que por mais que tentasse, sempre me escondi atrás de cenas como um filme.
Que nas coisas mais estupidas lembro de você.
Seja vendo um programa de TV, escutando uma música.
Basta uma besteira para que as lembranças passem em minha mente.
Mas isso acho que não te diria, te deixaria muito bossal.
Não espere dessa carta mentiras, ilusões, eloquência.
Espere somente sinceridade, é o que posso te dar.
Sei que não somos perfeitos, mas afinal quem é?
E talvez seja isso a grande graça, o grande motivo estarmos juntos.
Mas não posso me alongar demais com meus devaneios.
Nessa carta diria simples e fácil assim: Gosto de você!
Não como gosto das outras pessoas.
Gosto de você de um jeito especial.
Pronto, é isso.
Para a sua satisfação falei.
E caso ache essa carta de amor rí­dicula e absurda.
Podes ter certeza disso.
Como diria o poeta, todas as cartas de amor são.
Mas isso não a deixa menos importante.
Se um dia eu te mandasse.

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