terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Quando a morte chegar...

No dia que a morte bater na minha porta para realizar a razão da sua existência, tirando minha alma daqui e colocando-a em algum lugar que não sei ao certo, quero poder ir com a consciência tranqüila. É certo que não estamos preparados para isso, mas eu queria estar. Enquanto a morte toma uma cerveja na sala de jantar esperando a hora chegar, bateria um papo, e quando ela me perguntasse “E aí, meu caro, agora que estás prestes para ir embora, valeu a pena estar aqui?”
Saboreando minha Brahma Premium bem gelada, queria responder que sim. Não por ter feito nada em especial, mas por ter sido justo, sincero e honesto durante grande parte da minha existência, sendo um cara médio, que viveu sua vida de forma tranqüila, mas com a cabeça limpa por nunca ter sacaneado com ninguém, não ter arrumado sua vida tirando proveito dos outros, bancando o esperto a toda hora, sendo um exemplo de mau-carater e sucesso, abonado por toda a hipocrisia da nossa sociedade.
Evidente que teria muitas falhas, decepções e frustrações acumuladas, e quando a morte me perguntasse “Terias feito diferente?”, responderia que sim, afinal quem não quer uma segunda, terceira ou quarta chance, ainda mais para um cara perfeccionista como eu. “Mas não vivi de forma triste”, continuaria a contar para ela, “pelo contrário, tive uma vida bastante para cima. Me diverti um bocado, aproveitei muito, mas tem sempre algo que deixamos de fazer”.
Quando tudo estivesse mais ou menos pronto para a partida, abriria outra cerveja e faria um brinde, não pela vida, muito menos pela morte, mas pela paz, por viver em paz, por não deixar que a hipocrisia, falsidade, mentiras e traições sejam partes constantes da nossa personalidade, que sigamos sempre acreditando que sermos justos e sinceros ainda vale a pena, que não abraçamos mais tanta gente mesquinha que vive ao nosso redor, nos envolvendo com sua pobreza de espirito e sua falta de ideais.
E que principalmente consigamos perceber que esse negócio de esperar demais da gente e das pessoas é o que faz a vida ser um pouco menos divertida. Até a próxima gelada, seja ela onde for.

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