quarta-feira, 2 de maio de 2007

Bloco do Eu Sozinho

Carnaval. Desengano. Ainda mais para um indie de alma (e nem tanto de corpo). “Eu não gosto dos G.R.E.S mas em fevereiro...”. Continuo não gostando, desculpe John e Fernanda, mas não gosto mesmo. Mas sabe como é, festa underground de carnaval na cidade, enquanto todos estão para o interior atrás da mais nova moda, eu vou! Afinal, “...toda banda tem um tarol quem sabe eu não toco, todo samba tem um refrão pra levantar o bloco...”
Lá chego, compro uma cerveja, converso com outros amigos indies sobre a importância do Sonic Youth no contexto da música americana atual ou de como não se agüenta mais escutar Franz Ferdinand, entre olhadelas para as meninas de cabelo vermelho, dançando com seus copos na mão e balançando suas saias vistas de perto por seus coturnos e tênis all star.
Banda tocando, esfrega esfrega na frente do palco, conversa com um amigo para dizer para a amiga dele que eu to a fim da amiga da prima dela, enquanto urro e canto aquela letra da canção mais estranha da banda só para impressionar. Dá certo. Ouço um comentário tipo: “Ele conhece todas mesmo, que massa...” E ela é bonita. Não posso esquecer. Bonita, ruiva e com uma camisa do Mundo Livre S/A. Já to apaixonado. Um indie apaixonado.
Saímos para conversar, rola o lance, o lance se enrola entre beijos deliciosos e meio sujos de tanto suor e cerveja, esquentando o clima. Acaba a festa, saímos para tomar mais uma na conveniência mais próxima, enquanto minha cabeça simula dias futuros, shows vistos lado a lado, mas me acalmo, “...deixa ser, como será quando a gente se encontrar...” Papo de indie intelectualizado que não cansou de ler Roberto Freire.
Não trocamos telefone, mas marcamos pegar um cinema no outro fim de semana no Cine Estação, algum filme de um diretor europeu cultuadissimo, mas que eu não sabia nem perto quem era. Nada que o Google não resolva. Santo Google. Um dia ainda peço para alguém lhe fazer uma oração. No cinema, nós dois limpos, meio arrumados, totalmente caretas e a química parece ter sumido. Assistimos o filme, mas não chega a rolar nada só um beijinho de despedida. Trocamos telefone, mesmo sabendo que não vamos nos ligar.
Noite. Em casa. Na frente do computador. Cara de bode. “...Depois de ter vivido o óbvio utópico te beijar...” É foda. Porque sempre dá errado. Dessa vez parecia que ia dar certo, dois meio iguais, sentados namorando enquanto tocava Teenage Fanclub ao fundo, trocando confidências sobre o melhor disco dos Beatles, a cena mais intrigante do Godard ou o melhor livro do G G Márquez. Mas, não foi dessa vez.
Acho o profile dela no orkut. Ainda tento uma reaproximação. Convido para sair, ir ver o show do Suzana Flag no Memorial, mas na rola. Dá vontade de dizer: “Abre os teus armários eu estou a te esperar...” Tempo que passa. Minha columbina se foi e me deixou como um pierrot abandonado. Puto e abandonado.
Semana Santa. Não viajo. Quero que o mundo se foda. Mas tem outra festa no mesmo lugar. Eu sou teimoso. E vou. Vejo ela com outro, tento ficar com raiva mas não consigo. “...Hoje eu quis brincar de ter ciúme de você mas sem...” Velha rotina reestabelecida, cerveja na mão, discussões indies e avisto-a, uma “ela” que nem se compara com a antiga “ela” que se esfrega num publicitário de meia tigela no balcão.
Esse ela é muita mais linda e que piercings são aqueles, a tatuagem então, putz! com corações entrecortados, ah....me apaixono de novo, “...quem é mais sentimental que eu?...” E parto em uma nova investida amorosa, com meu papo pseudo intelectual procurando uma nova paixão. Quanto à outra, que siga sua vida, pois no fim das contas, “...todo carnaval tem seu fim...”

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