segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Doce Desespero

E pela manhã lá estava ele acordado novamente com seus sonhos, andando pela praia a procura de saí­das, de espasmos de felicidade.
Sua vida nos últimos anos se resumia a isso, a espasmos, a conta gotas de felicidade.
Tudo que lhe proporcionara um sorriso agora vinha em doses homeopáticas, em tristes doses de botequim.
Pela praia insistia em caminhar cedo, adentrando o mar para largar suas frustrações diárias.
Lá deixava seus desafetos de trabalho, seu fracasso em subir na vida.
Deixava suas decepções amorosas, os rostos das mulheres que amou um dia, o cheiro de seus cabelos e de suas mãos.
Arremessava seus arrependimentos na maré, como se fosse final de ano.
Para ele isso já pouco importava.
O que não aguentava mais era ter que conviver com tantas duvidas, tantos porquês.
Tinha feito tudo como mandara o figurino.
Lido todos os livros que podia, escutado as melhores canções, visto os melhores filmes, ouvido os mais sábios e de tudo isso absorvia idéias para sua vida.
Se tornara um cara desejado, culto, admirado por muitos.
Mas algo fizera errado.
E com os 40 e poucos anos lhe assombrando, era somente isso que não sabia administrar.
Onde havia errado?
O que teria feito para não dar certo?
E seguia andando pela praia de manhã, submergindo com seus erros, até o dia em que não conseguiria levantar, o dia em que não pudesse mais, em que a batalha estivesse perdida.
Mas ainda assim seguia junto com o doce desespero que invadia seu ser.
Sem parar jamais.

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